Uma visita a um Moínho de Maré no rio Rance, Bretanha, está na origem deste post. Momento Wiki.
Antes do carvão, do petróleo, da electricidade e do nuclear, eram escassas as fontes de energia disponíveis, numa extensão razoável de espaço e tempo. Era esse aliàs o principal travão que manteve o nível e a qualidade de vida tão mediocres como foram até ao séc XIX.
A força de trabalho dos animais (e dos escravos) não permitia mais que uma economia de sobrevivência extremamente desigual, sem perspectivas de evolução. Era a energia dos ventos a melhor alternativa, e há milénios que moínhos e noras garantiam o pão e a água em extensas regiões do planeta. Tecnologias ainda rudimentares, que já eram um progresso em relação à força animal, mas sujeitas à dependência dos ventos e a um curtíssimo alcance.
O salto mais significativo foi dado na Idade Média com os moínhos de maré. Desde o séc. XII não havia estuário de rio, ou larga ria de mar, onde as marés fossem amplas e a ondulação não se fizesse sentir, que não tivesse um ou vários moínhos de maré. A rede desses engenhos bem imaginados chegou a contar milhares pela Europa e América do Norte.
Cada vez mais se encontram dados arqueológicos que fazem antecipar a data dos primeiros moínhos de maré - uma recente descoberta datou um desses, na Irlanda, já no séc. VI .
No essencial, aproveitavam a regular subida de maré para aprisionar o máximo de água por trás de um dique, fechar as portas na maré alta, e tirar vantagem da diferença de nível de águas: durante a descida, fazia rodar a roda do moínho. Isto era possível praticamente todo o ano, duas vezes por dia ! Que coisa maravilhosa, uma energia garantida com essa regularidade !
À parte o dique, a principal peça do engenho era a roda. Tinha de ser fabricada com cuidado, sobretudo as pás, e rodar bem oleada sobre eixos debaixo de água. Nestas condições, a energia que debitava era bem firme e constante durante umas horas. Não oscilava, como os moínhos de vento, nem tinha tão grande perdas porque a engrenagem se reduzia ao mínimo.
Moulin du Prat, estuário do rio Rance, Bretanha
Na História da produção de energia, os moínhos de maré têm um lugar relevante - foram a primeira forma de produção planeada e alargada, numa rede costeira por toda a Europa. E foram antepassados directos das barragens hidroeléctricas.
Eling Tide Mill, perto de Southampton - estuda-se a sua reabertura adaptando-o à produção de electricidade.
Há exemplares a trabalhar ou restaurados como museu em estuários de Inglaterra e França, no Báltico, e mais perto, nas rias da Galiza. Em Portugal, de muitos que houve sobram pelo menos quatro, a sul, no estuário do Tejo e na costa Algarvia.
Moínho de Alhos Vedros, Montijo.
Moínho de Estômbar, Lagoa, no estuário do Arade.
Em França abundam nos largos estuários a Norte, na Bretanha e Normandia, para o canal da Mancha, onde as marés atingem 18m de amplitude. Entre o cabo Fréhel e Cancale a costa é muito recortada, com inúmeras baías onde o fluxo e refluxo das marés pode ser aproveitado. De tal modo que há barragens modernas, como a do Rance, que funcionam sob o mesmo princípio e geram energia eléctrica durante as horas da maré descendente. É uma fonte de energia barata e fiável.
Moulin du Prat.
1 comentário:
O moinho de Alhos Vedros, pertence à Moita é não ao Montijo.
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