Viagem imaginária ! Agora que se aproxima o solstício de inverno, o passeio é sobre o paralelo 80, de nascente para poente, do Canadá Ártico para o Ártico siberiano.
- as ilhas Axel Heiberg e Ellesmere,no Canadá.
- o extremo norte da Gronelândia.
- as norueguesas ilhas Svalbard.
- os arquipélagos Franz Josef e Severnaya Zemlya (Terra do Norte) no oceano ártico ao largo da Sibéria.
Há plantas e flores a 80º N, durante os três meses de luz solar, como estas papoilas em Svalbard.
Partida: em Axel Heiberg, uma das ilhas mais setentrionais do Arquipélago Ártico canadiano, encontra-se um terreno arenoso, desértico, que foi escolhido como uma boa aproximação do que se espera em Marte. Pareceu adequado a testes em condições similares, e a NASA instalou lá uma base - a estação MARS ("McGill Arctic Research Station"), perto da latitude 80º N.
A nascente 'Lost Hammer Spring' é um caso único - contém bactérias que se alimentam de metano e conseguem sobreviver a -60º, em condições extremas de hiper-salinidade, sem oxigénio. Parece Marte ?
Estação McGill, 79º 26' N.
Mais:
http://ultima0thule.blogspot.com/2014/07/axel-heiberg-arctic-as-arctic-can-be.html
Sigamos para a vizinha Ellesmere, a maior do arquipélago e a que mais se aproxima do Pólo Norte. É tão grande como a Grã-Bretanha !
Cadeias montanhosas de beleza precipitosa e formas estranhas.
O fiorde Tanquary, um dos maiores e mais bonitos em Ellesmere.
A 80º N situa-se a estação Eureka, base militar e de estudos meteorológicos, permanente desde 1947.
Em Eureka já houve várias gerações de construção. O mais recente centro de operações vem de 2005.
Continuando para Leste, atravessamos o Estreito de Nares e aportamos na costa poente da Gronelândia, ao encontro do célebre glaciar Humboldt (ou Sermersuaq, em inuit), o mais largo glaciar no Hemisfério Norte :
A frente marítima estende-se por 110 km.
Reflexo do glaciar sobre a Kane Basin, um braço de mar que separa Ellesmere da Gronelãndia.
Station Nord, 81º N
A estação Villum da Universidade de Aarhus integra a Station Nord.
Apenas 1 grau acima dos 80º, a base dinamarquesa Station Nord é uma das mais frias e remotas estações polares do planeta, na longínqua e desabitada costa nordeste da Gronelândia:
- 40º C é 'normal' por aqui.
Atravessamos o Atlântico Norte para o europeu (norueguês) Arquipélago de Svalbard. O paralelo 80 mal toca o extremo norte das ilhas.
A povoação mais próxima é Ny Ålesund, para sul, a 79º N, uma estação científica permanente que ficou célebre pela aventura do zeppelin Norge:
http://ultima0thule.blogspot.com/2009/05/ny-alesund-and-adventure-of-norge-part.html
Mas em Svalbard há também um terreno avermelhado onde a NASA faz testes para a expedição a Marte: o Bockfjorden e o circundante deserto montanhosos de sedimentos vermelhos.
O Bockfjorden fica a 80ºN; é um lugar intrigante onde o quente e o frio convivem: não há capa de gelo, o clima é frio mas seco, e nascentes de água quente ainda borbulham no terreno vulcânico. Pouco gelo, águas quentes e águas frias, terreno ferido de erupções, este local lembra o que Marte teria sido no passado.
O vulcão Sverrefjell criou este lugar único.
Uma de várias fontes termais criadas pelo Sverrefjell a 80º N.
A expedição AMASE testando um robot em condições 'marcianas'.
Estas ilhas mais que remotas estão quase todas acima do paralelo 80, muito ao largo da costa ártica siberiana. Uma delas, a Ilha de Bell, está exactamente nos 80ºN.
A ilha de Bell sempre fascinou exploradores e cientistas.
Nagurskoye, uma base na ilha Alexandra:
Esta base russa situada a 81º N esteve semi-abandonada até recentemente ter sido renovada com algum esmero.
Mais:
http://ultima0thule.blogspot.pt/2012/06/franz-joseph-land-strange-islands-lost.html
Cabo Tegettoff, Ilha de Hall, 80º N.
Há poucos lugares na Terra mais adequados a um filme de ficção fantástica !
Espectacular.
A Terra do Norte, Severnaya Zemlya, consegue ser ainda mais isolada, um nenhures a sul e a norte de coisa nenhuma, perfeito para misantropos se refugiarem da civilização no mais longe que o alto ártico russo permite.
Sim, há uma estação meteorológica em Golomyanniy, 79º 33' N, na Ilha Sredniy, mas é um desafio tremendo dar com ela, uma 'dacha' perdida num canto de uma ilhota gelada, uma das mais minúsculas e anónimas.
A meteorologista-chefe. Lembra-me o livrinho "Le Météorologiste" de Olivier Rolin: longos dias de solidão, só entretida com os mapas e relatórios das medições.
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Pode surpreender, mas há vida animal a esta latitude. E bichos bem grandes !
Uma fofinha raposa do ártico em Novaya Zemlya.
O antipático e arisco boi almiscarado, Ilha de Ellesmere.
Bonito mas temível, um urso polar em Franz Josef Land.
A acabar, como comecei: uma florinha contente nos 80º N !
O Ártico vive esta contradição: cada vez mais acessível e cada vez mais ameaçado, pelas mesmas causas - o avanço tecnológico e o aquecimento das águas. Muito do seu apelo à aventura fantástica e solitária estará em risco pelo crescente povoamento, pela exploração de recursos, pela travessia de frotas comerciais. Mas os 80º N devem ter ainda muitos anos de deserto gelado e inóspito pela frente, que lhe garantem algum recato, felizmente.
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