quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

E então acredito em quê? Vamos lá a ver:


- Em Handel, Mozart, Beethoven, Brahms e Mahler, acredito no que dizem por música. Beatamente, confesso. E quase sempre em Bach também. E noutros às vezes. Mentir por música é absurdo, por isso é que ela é uma linguagem tão nobre.
Na Ópera já acredito mais moderadamente, com reservas, pois teatro é arte de mentir.]

- Em Chauvet, Pompeia e Herculano, Ghirlandaio, Rafael, DaVinci, Renoir, Turner, Matisse, Klee, também confio, sabendo que só revelam da verdade uma parte - se, cada um à sua maneira, falseiam a realidade, é com génio, para nosso deleite, e sem fazer mal a ninguém.

Tal como a literatura. Ficção, já a palavra o diz, não fala de realidade. Aqui é o engano elevado ao máximo requinte - a sublime mentira das palavras inventadas. A razão porque mesmo assim gosto de literatura é que nesse caso estamos avisados - atenção! a partir da primeira página, entrou no imaginário do autor. A questão de acreditar não se põe sequer.

- Acredito, sim, na Ciência, com selectivo cuidado. Evito cuidadosamente as pseudo-ciências sociais e humanas. Biologia, Física, Química, Astronomia - sim, têm-me dado gratas alegrias e sabedorias. Não deve haver outros como os cientistas que tão incansávelmente procurem a Verdade - não uma verdade relativa, cultural, tribal, mas a que tem V grande. Contudo há mentiras resistentes, como a dos quatro elementos - água, terra, ar, fogo - que persistiu séculos, a teoria do Flogisto, a geração espontânea só desmentida no séc. XVII, ou a treta de que os antibióticos sejam inúteis contra infecções virais, ainda em vigor.

- E na História ? A História é o Grande Problema. Escrevem-se tantas falsidades históricas que por vezes apetece duvidar totalmente dela como genuína fonte de conhecimento verdadeiro. E depois os factos prestam-se de tal forma a interpretações, quase todas preconceituosas, que acabam por ficar inacessíveis, como ouro escondido sob enorme camada de ganga. Na História não tenho confiança nem acredito - mas faz-me tanta falta que lhe aceito uma fina (muito fina!) camada duvidosa, em volta do núcleo de verdade.

- Na Europa. Eurocentrista, sou. Acredito na Europa, a minha maior crença talvez, sou mesmo fanático europeísta. Se a Europa, como um todo, tivesse de se defender em guerra, daria tudo por ela. Só por ela, quero lá saber de países. Este video diz quase tudo da minha amada Europa.


E pronto, mais nada. Alguns encontram a Verdade na Natureza (Zen, Gaya, etc). Não acredito, ela mente descaradamente, engana de forma traiçoeira; é aliás sobretudo contra a Natureza que se fez a Ciência, procurando desmascarar as suas ruins mentiras, contrariar os seus disfarces e escondidas ameaças. Desde o gravitão e dos vírus até aos buracos negros, passando por nós próprios, que ainda somos uma enorme falsidade !

Religiões, pior ainda; mentiras que o Homem inventou para sua comodidade e consolo.

Como toda a gente, acredito nos que me são próximos e queridos. Mas isso é outra fé, genética e afectiva, onde mentira e verdade não existem porque os valores são de outra ordem.

Fiz deliberadamente uma confusão entre "acreditar" e "gostar". Mas as preferências de uma pessoa não são afinal as coisas onde ela encontra mais Verdade ? Admiro, acredito, sinónimos.


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