segunda-feira, 22 de abril de 2019

Afurada, a aldeia do outro lado


Para variar, dou a ver um sitio 'de cá', aqui memo ao lado do Porto.


Passo muitas vezes na Afurada, a caminho do litoral de Gaia (que à semana é um sossego) para andar na praia ou estar de esplanada com larga vista de mar. Rio e mar, a companhia da água é sempre bem vinda.

A traineira 'Mar Eterno', do único armador no activo, disseram-me.


A Afurada é terra de pescadores. Não tem arte nem elegância. É um sítio muito marcado, enquadrado pelo Douro e pela linda ponte de Egar Cardoso. Ultimamente tem-se modernizado, para melhor e para pior. Um novo mercado, restaurantes à volta, limpeza e qualidade. A impecável Marina, de riqueza ostentatória, estabelece um contraste que pelo menos não desfeou e trouxe receita; já o mostrengo habitacional mesmo sobre o rio, ainda em construção, para novos ricos, brasileiros, franceses ou chineses, é a descaracterização no seu melhor. Mas qual é o carácter ?


Uma das imagens típicas é o estendal ao vento na margem do Douro. Progresso, máquinas? Aqui não.

Entrando na povoação, as casas são em geral pobres e todas parecidas de arquitectura; o que varia é o padrão de azulejo na fachada (alguns bem feios) e a mesa ao ar livre, para bisbilhotar ou saborear uma sardinhada.



O elemento decorativo mais frequente é um azulelo pintado alusivo às actividades do rio.

Dia de sol, dia de lavar e limpar.


Lindas janelas, com algo de art deco.




Uma das fachadas mais invulgares é esta esquina da Padaria.

Painel de azulejo bem bonito.

Falta a sardinha.

Já fumega

Pronto.

Alguém se entreteve a coleccionar por aqui padrões de azulejo, ei-los:


Património, só se for o Palacete de S. Paio:


Uma residência romântica no estilo neogótico, propriedade da Igreja. Também conhecida por Casa (da Quinta) de Santa Isabel.



E subindo o patamar da riqueza, podemos continuar na Marina, que embora seja espaço público é nitidamente demarcado, na frequência e nos preços.



Não se está mal, se for para passear "a ver os barquinhos".


Para a malta da Afurada, e muitos do Porto, o barquinho que interessa é a lancha da Afurada, agora rebaptizada "ferry" !




Seguindo em direcção ao mar, um passeio cimentado convida a caminhadas ao longo do rio.

É nesta zona que se está a erguer o mostrengo residencial de luxo, paredes meias com a Marina. Enfim podemos dizer que, depois da pobreza piscatória, a Afurada está multiclassista. Também está ecológica:


A Reserva do Estuário do Douro (RNLED) fica logo a seguir, um nicho de Natureza atractivo sobretudo ao fim do dia e com maré baixa.



Maçarico de bico amarelo.

A variada fauna voadora inclui guarda-rios, patos, corvos-marinhos, garças-reais, pilritos, maçaricos e rolas-do-mar, tarâmbolas e seixoeiras, piscos-de-peito-azul ou amarelo...

O entardecer na Afurada dá belas fotografias.




4 comentários:

SilverTree disse...

Como sempre, que bom passear consigo. Um abraço!

Mário R. Gonçalves disse...

Óptimo. Dantes chamava-se a isto 'passeio dos tristes', é uma voltinha ao pé da porta, pensei que não fosse apreciado, Inês. Abraço.

Virginia disse...



Acho graça à Afurada, mas vou lá poucas vezes. Faço sempre o mesmo percurso que acaba com a travessia de barco para o Porto ao fim da tarde. É baratíssimo e agradável. Pena é não haver mais!
Adoro as praias de Gaia com as suas paliçadas, mas raramente lá vou pois não conduzo e de taxi é um pouco caro. Prefiro a Foz onde tenho autocarros e posso passear ao pé do mar. Ou então Matosinhos ao fim da tarde...
Comprei um quadro a uma amiga minha há uns tres anos que "versava" a roupa estendida da Afurada. Tem um estilo cubista muito interessante. Essa foto é quase igual...
Continue a passear por aqui. Gosto dos comentários e das fotos.

Mário R. Gonçalves disse...

Virgínia, tenho enviado alguns comentários para o Cores em Movimento, mas não aparecem, perdem-se nalgum Black Hole da Web...