terça-feira, 5 de maio de 2020

De Killin ao Crannog de Loch Tay: já vão 27 anos


Outro belo passeio das minhas memórias.

Foi durante a primeira visita à Escócia, baseado em Glasgow; fiquei apaixonado pela cidade, desde a arquitectura e espaços até ao ambiente pacato e civilizado. O Museu, a escola de arte Mackintosh (destruída depois pelo fogo) e a sua casa de chá, o também famoso Teatro Real onde haveria de voltar para um Peer Gynt, Buchanan Street fervilhando pela manhã; até o Princes Square e o St. Enoch Center foram revelações inesperadas de cultura e modernismo que não esperava numa cidade tão marginal na Europa. Encontrei também espaços gastronómicos inovadores como o Fratelli Sarti, uma mercearia italiana que integrava sala de restaurante, acolhedora como poucas (*). Em 1993, ainda era raro; Glasgow em pós-crise resplandecia, bem mais cosmopolita que o Porto.

Mas o passeio tinha dois objectivos: Killin e as suas cascatas e rápidos no rio Dochart, e um lago escocês (o Loch Tay) com o recentemente reconstruído Crannog de Kenmore.


Começo pelas cascatas do Dochart, em Killin:


Uma das melhores vistas é da ponte:

Depois de 'encher o depósito' em Killin, fizémo-nos à estrada sul do lago Tay, mais uma daquelas estradinhas secundárias preciosas ladeadas de águas e arvoredo mas estreitas de assustar. Faz parte da rota histórica Rob Roy Way, recomendada a ciclistas...


Estrada A827 - sul


The Scottish Crannog Centre

Um crannog [ˈkrænəɡ] é uma ilhota artificial num lago, que os povos do neolítico (até à Idade de Ferro) construíam para habitação; consistia numa parede circular em madeira coberta de um tecto cónico de colmo, e um passadiço a ligar com a margem, tudo sobre estacas de madeira. Uma construção palafítica (a lembrar as da Comporta). Embora a maioria datem desde 800 AC, os mais antigos, em pedra, são de ~3000 AC, nas Hébridas. A reconstrução de Kenmore é um Crannog de cerca de 500 AC, talvez já uma adaptação tardia dos celtas da Caledónia. Encontraram-se muitas habitações lacustres deste tipo nos lagos da Suíça, já classificados pela Unesco, na Irlanda e na Escandinávia.
A reconstrução foi feita a partir dos achados da Idade do Ferro na excavação de um sítio arqueológico de há 2 500 anos no Lago Tay.


Das muitas centenas de crannogs existentes na Escócia, alguns foram reutilizados ao logo do tempo, na Idade Média como refúgio, depois como abrigo de pescadores. No centro ardia a lareira, as pessoa dormiam na periferia, e havia ainda um recinto para abrigo do gado (ovelhas ou cabras).



Ao entardecer, uma brisa fresca e pura e o marulhar das águas do lago proporcionavam uma sensação de etére eternidade, a História em descanso ali mesmo, imóvel, parada no tempo. Teria ficado indefinidamente, mas fazia-se tarde e a viagem de regresso seria longa.

Tal como Itália, a Escócia podia ser a minha pátria por opção. Gosto de tudo, menos do clima chuvoso. Um dia de sol escocês é um dia no paraíso.




Saber mais: aqui

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* sei que fez obras de ampliação e perdeu o charme de pequenino.

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