Labirinto Sámi em Nagu, na Lapónia finlandesa.
Há no Norte da Europa um estranho legado histórico na forma de labirintos circulares, que ao contrários dos labirintos habituais mas à semalhança dos antigos, da mitologia greco-romana ou medieval, não têm becos sem saída nem falsos caminhos; seguindo-se direitinho desde a entrada, vai-se infalivelmente dar ao centro. O desenho é inteligente e de alguma complexidade visual.
'Troy Town'
Mas se fosse de facto esta a origem dos modelos que existem nas regiões do Norte, porque não os há por todo o Mediterrâneo ? Outra teoria atribui o nome Troy à palavra celta troian (thrawen) que significa "curvar".
Os mais antigos Troy Towns são de turfa; existe uma dúzia deles. O Dalby Turf Maze fica cerca de 18 km a norte de York.
Plano do Labirinto de Dalby, o modelo clássico de 7 círculos com cruz.
Mais a sul, outro Troy famoso é conhecido por Julian's Bower, em Alkborough, North Lincolnshire:
Em Somerton, Oxfordshire, num terreno que é privado, existe o maior e mais complexo labirinto de turfa inglês:
Um dos mais antigos (séc. XIV ou XV), o Troy Town de Somerton é um labirinto de 15 círculos, raro em Inglaterra mas frequente na Escandinávia.
Nas incríveis ilhas atlânticas de Scilly, arquipélago ao largo da costa sudoeste de Inglaterra, há um dos mais espectaculares e bem conservados - mas é do século XVIII !
O modelo do Troy Town da ilha de St. Agnes é já de construção igual ao dos escandinavos, mas é talvez uma cópia, construído, parece, pelo filho do faroleiro da ilha.
Labirintos Sámi na Escandinávia
É esse mesmo desenho que é conhecido na Escandinávia como Trojaborg. Os povos Sámi vivem no norte da Suécia e Finlândia, além de pequenas comunidades na Noruega (Finmark) e Rússia (Kola, ilhas Solovetsky e Bolshoi Zayatsky). Criadores e pastores de renas, mantêm alguns hábitos de nomadismo (acampamentos de tendas). Acontece que é justamente nestas regiões que foram encontrados centenas de labirintos redondos do mesmo tipo dos Troy Town; só na Suécia os 'trojaborg' são mais de 300, incluindo os da Gotlândia.
Um 'Trojaborg' em Visby, Gotlândia
Difíceis de datar, os labirintos de Visby serão medievais, dos primeiros tempos da Liga Hanseática; exames arqueológicos apontam para datas de construção entre os séculos XIII e XVIII, mas podem ter sido 'recuperados' de outros mais antigos - do neolítico,talvez ? Mais mistério.
Labirinto medieval junto à igreja de Frojel, Gotlândia. (**)
Os labirintos escandinavos eram construídos escavando o desenho no solo e, em seguida, depositando pedras grandes, geralmente arredondadas, em cima das linhas escavadas. Por vezes estão próximos de água (litoral, lagos), ou junto de sítios funerários; mas não há nenhuma indicação de relação directa, nem até hoje foi comprovada nenhuma das hipóteses especulativas para o seu significado.
Na Finlândia, são conhecidos por Jatulintarha ('Jardim dos Gigantes') e são cerca de 200; o Finbyn jatulintarha em Nagu (ou Nauvo) é o mais conhecido:
Um bonito labirinto de 11 anéis em Nauvo.
Em frente a Vaasa, na costa do Golfo da Bothnia, há um arquipélago onde se contam muitos jatulintarha, alguns serão medievais mas a maioria é posterior.
Este é numa das ilhas do arquipélago de Kvarken.
Embora seja provável destinarem-se a algum tipo de culto ou cerimonial, estes labirintos continuam a ser monumentos enigmáticos, cujo significado ainda está por desvendar. Não será certamente o 'alinhamento com o sol nos solstícios', nem com a lua; nem sítio de 'ritos e danças de fertilidade' devido a alguma semelhança com a entrada do sexo feminino; nem rituais xamânicos de comunicação com os mortos; já faria mais sentido que seja um 'amuleto' de boa sorte na pescaria, porque quase todos estão à beira de água, em ilhas ou na margem de rios, mas não existe qualquer documentação nesse sentido, e não se consegue obter provas científicas.
Termino com os particularmente bonitos labirintos Sámi da Península de Kola; aqui há cerca de 60 labirintos circulares, só na ilha Bolshoi Zayatsky são 14 ! É uma das ilhas Solovetsky no Mar Branco.
Coberto de tojo da tundra, o labirinto em dupla espiral de Bolshoy Zayatsky.
Curiosamente, os sámi chamam-lhe vavilons (babilónias), e não faltam especulações sobre este nome: será o modelo da antiga Babilónia? São contemporâneos dos Troy escandinavos (séc. XIII - XVIII) e construídos com a mesma técnica de escavar e cobrir de pedras. Mas o que é mais intrigante é que estes labirintos não são do mesmo modelo cretense de 7, 11 ou 15 anéis circulares: são labirintos de espiral dupla, com um desenho ainda mais complexo:
São labirintos sem fim, entra-se e volta-se a sair depois de o percorrer em toda a extensão. O último que mostro é o de Murmansk, no topo de uma elevação vizinha, nada portanto a ver com água ou pesca.
Uma bela espiral dupla, a datação é medieval.
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Que vemos nesta moeda helenística de 80 AC (um tetradracma), encontrada em Knossos ? A cabeça de Apolo de Delos e... o nosso labirinto circular !
Antiga também é esta pedra gravada do ano 550, encontrada em Wicklow, na Irlanda:
Hollywood Stone , ca. 550: o mais antigo Troy Town do Norte da Europa.
Portanto, o desenho era conhecido, tanto no mundo greco-romano como lá no Norte, desde o início da nossa era ! O conhecimento expandiu-se para oeste e leste, longitudinalmente, desde as ilhas Scilly à península de Kola e suas longínquas ilhas - mas não se manifesta* no centro e sul da Europa. Estranho.
* Há um desenho no chão de Chartres, há uns raros labirintos (modernos) na Alemanha.
** Foto obtida aqui.
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