Woman Reading a Possession Order, Tom Hunter, 1998
Influências de Vermeer também nesta obra do dinamarquês Vilhelm Hammershøi, o ´poeta do silêncio' :
- NUM GRÃO DE AREIA
O MUNDO INTEIRO VER -
Rochester, Kent, foi outra pequena cidade histórica de Castelo e Catedral que visitei por uma tarde ensolarada, há sete anos; a viagem desde Tunbridge Wells foi demorada, a entrada em Rochester lenta até finalmente estar apeado em High Street. Uma festa ! Com sol, a rua embandeirada, o comércio inglês colorido, as casas Tudor com travejamento de madeira, tabuletas e floreiras abundantes, tudo ajudava a um ambiente urbano alegre e acolhedor. Tanto quanto sabia, a cidade resumia-se a Castelo (ruínas), Catedral e rua principal - a High Street.
A 'High Street' de Rochester é um gosto.Passear nestas ruas inglesas de pequena cidade é um dos prazeres raros que tive em viagem, sentir vida urbana numa escala agradável, num espaço bem tratado, acarinhado, é como um berço de civilidade.
Lojas de gulodices.Já mais para o fim da rua, demos com a casa onde Charles Dickens viveu e escreveu - por exemplo os 'Pickwick Papers' -, o chalet suíço na Eastgate House.
A High Street nem é longa, mas depois do passeio eram horas de nos restabelecermos. Para ser rápido e sem surpresa, e barato, nada melhor que fish and chips, e uma vez não são vezes. Foi no The City Wall, um bar que tinha uma esplanada ao sol, mesas e bancos de traves de madeira, tosco. Gostei do cartaz à entrada:
A Catedral de Rochester
O edifício parece atarracado, contudo é uma das mais antigas, valiosas e apreciadas catedrais normandas do país: data de 1080, quando a arquitectura normanda estava no auge; do edfício original conservam-se a nave, a cripta e a fachada românica.
Acrescentos góticos também valorizam a Catedral, como a porta da Biblioteca do Capítulo, do século XIV.
Vale a pena ler mais, aqui.
E pronto, para cidade pequena não está mal, Rochester.
--------------------------------------
Ouvir as minhas novas Wharfedale é um consolo antiviral. De 2020 - ano Beethoven - sobraram várias excelentes gravações; ainda não ouvi todas e algumas merecem repetições, a disfrutar de melhor reprodução. São a prova de que nem tudo foi mau no ano vintevinte. Relato agora duas novas curiosidades, e uma coisa polémica.
Contemporâneos de Beethoven, Reinhard Goebel
Ainda relacionado com Herr Ludwig, este disco intitulado Beethoven´s world junta obras de Salieri, Hummel e o desconhecido Vorisek. Do primeiro, a suite 26 Variações sobre "La Folia di Spagna", é alegre mas cansativa; de Hummel, um injustamente secundarizado compositor, o majestoso e complexo Duplo Concerto para Violino, Piano e orquestra, com Reinhard Goebel a dirigir a sinfónica da WDR (Colónia). Há ressonâncias de Mozart, mas um Mozart que tivesse já aprendido com Beethoven... mas não, é Hummel no seu melhor, a escrever para dois instrumentos solistas e orquestra, o que não é coisa fácil, e a sair-se com mestria.
Pletnev e a orquestra russa
Surprendente, esta gravação ao estilo russo, como se Beethoven fosse Tchaikovsky. Nalgumas sinfonias resulta, noutras não. Pletnev afasta-se das interpretações historicistas, retoma a manipulação (ultra)romântica, mas com um gusto, uma energia impressionante, digamos ao estilo de um Solti nos seus dias mais tresloucados. Portanto, nada a ver com o que estamos habituados a ouvir.
Fosse a orquestra medíocre e o resultado era um desastre; mas nunca ouvi uma a orquestra russa tocar com tal rigor, com tal vigor, enfatisando as dinâmicas a um máximo muitas vezes discutível. A gravação é excelente, toda esta ênfase passa sem distorção. Gosto muito das 2ª, 4ª e 7ª. A interrogação na 5ª deve-se ao último andamento, realmente inaudível de tão erradas serem as opções de ritmo e dinâmicas, os fraseados aniquilados numa cacofonia estrepitosa. Pelo que li, a 3ª, 6ª, 8ª e 9ª são de fugir a sete pés, completamente arrasadas pela maluqueira de Pletnev.
Seja como for, uma lufada de ar. Se é fresco ou insalubre, depende dos gostos.
Que música vou deixar na despedida ? Não, não é Pletnev, é antes a WDR num excerto de Hummel, o andamento final do Duplo Concerto:
Pode o leitor dizer desta página, por exemplo, que ela não tem nada. Mas ao ler este texto está provavelmente a examinar o papel em que a notícia está impressa. A dar-se conta da matéria física do jornal: a sua qualidade macia e fibrosa, a sua densidade que não chega a ser opaca, a cor branco-sujo, a textura mesclada. Observa talvez a superfície desigual da folha, levemente encorrilhada pela humidade. Vê sombras da página quinze que aparecem aqui e ali. E se olhar com cuidado, traços e sinais da página de desporto na página anterior são visíveis também. Consegue ver que o papel modula a luz que incide sobre ele, sentir que isso silencia o ruído de actividade periférica e foca a sua atenção. Escuta o seu carácter sonoro quando amarrota o papel tentando segurá-lo melhor, talvez procurando vê-lo mais de perto. Mas mesmo em close-up o vazio desta página, equilibrado como está no final, é pleno de natureza.
-------------
* Roni Horn é uma escritora, artista gráfica e escultora, que mantém no jornal islandês a página 'Iceland's Difference'.
Visitei o Museu de Louisiana, a norte de Copenhaga, no Verão de 1996. Segue-se pela estrada costeira sem nada de especial por quase quarenta quilómetros, estranhando 'como foi nascer ali um museu ?'. Uma casa nobre rural agora pública, sobre a um relvado de cota baixa à beira-mar, prestava-se ao ajardinamento de um parque e o melhor que há para situar num parque é um Museu. Digam-no Serralves ou a Gulbenkian ou os National Museums de Edimburgo.
O Museu de Louisiana é de arte moderna. Arte moderna na Dinamarca, ora aí está uma coisa que não promete nada de bom, e de facto nem com boa vontade lá vi obra que me chamasse sequer a atenção, só borradelas e grafittis de terceira ordem no meu gosto, de modo que atravessamos a casa em diecção ao parque sobre o mar; demos então com uma salinha lindíssima com Giacomettis !
É preciso ter uma visão de génio.
Saímos depois para o jardim, abundantemente decorado com esculturas.
Da cafetaria tem-se uma vista muito ampla para o mar e a costa da Suécia.