quinta-feira, 12 de novembro de 2009

A Lit & Phil de Newcastle




Newcastle-Upon-Tyne é uma cidadezinha histórica na costa leste do Reino Unido, com grande protagonismo na revolução industrial, com um Teatro Real muito lindo (onde há temporadas de Shakespeare) numa magnífica rua georgiana em crescente (rampa e curva) como só os ingleses sabem fazer. Tem excelentes livrarias e museus, e desde que foi Capital Europeia da Cultura tem as margens do rio Tyne mais bonitas, com passeios urbanizados e edifícios culturais modernos


Mas o que me leva a fazer este post é uma instituição tipicamente british que tive o gosto de visitar quando por lá andei : a Lit Phil, ou seja, a Literary and Philosofical Society.



É a maior biblioteca fora de Londres, com 150 000 livros (500 são anteriores ao séc XVIII), e também uma enorme e famosa colecção de música – tudo acessível por requisição – de cerca de 7000 CDs , 10000 LPs e 6000 pautas, começada há 100 anos, e que não pára de crescer.


Fundada em 1790 como clube reservado de “conversação”, discutia tudo excepto política e religião. Todos os temas “conversados” eram apoiados em livros. Teve desde início um cariz liberal: a primeira mulher foi admitida logo em 1804 (!) , demonstrações tecnológicas inovadoras tiveram aí lugar na época áurea da revolução industrial. Joseph Swan demonstrou os bolbos eléctricos de luz em 1880, iluiminando a sala de leitura, a primeira sala pública com luz eléctrica. Entre os conversadores mais famosos está Oscar Wilde, e entre os membros da Sociedade, Robert Stephenson (máquina a vapor).


Situada ao lado da estação de combóio, toda a sua madeira treme quando o expresso para Edimburgo acelera. O edifício georgiano é magnífico, no caminho da muralha romana de Adriano , que atravessa a cidade.


A colecção de livros antigos é o ponto forte da Lit & Fil.

A Sociedade continua um clube reservado a sócios, mas a biblioteca está aberta à requisição, mesmo dos livros antigos. È um gosto ver livros velhinhos, com patine, a viajar de comboio ou para a mesa da sala de estar de cada um. São lidos à noite para adormecer crianças ou levados para citação em palestras depois do chá.


Quando voltam à biblioteca, trazem uma manchita de Porto, migalhinhas de bolacha ou uma folha de feto entre as páginas. Contam histórias, não só textuais, mas de toda a gente que os folheou.

Achei piada também aos CDs da colecção da biblioteca, muito arrumadinhos, todos em caixinhas vermelhas iguais .

Voltava com gosto a Newcastle upon Tyne, tanto mais que nos arredores há sítios inesquecíveis: Robin Hood Bay, uma vila de pescadores numa ruazinha em rampa sobre uma baía de sonho; o castelo de Bamburgh, na praia; a cidade em cascata de Whitby, cenário de filme, parece saída de Dickens ou Austen.

E sentar a ler um livrinho da Lit&Phil.


1 comentário:

Gi disse...

Tantos lugares lindos para visitar e revisitar, não é? Para tanta beleza tão curta a vida...