sábado, 2 de agosto de 2014

La Siesta


Tempo de sesta, então.
hora sexta dos romanos, contada a partir do nascer do Sol, correspondia ao meio-dia.

O historiador medievalista Jacques Le Goff, recentemente falecido, explicava que a Igreja, que tinha imposto o seu tempo litúrgico às sociedades medievais marcando-lhes o ritmo com o toque dos sinos (invenção dos séculos VI e VII), irá, a partir do séc. XII, sofrer a concorrência do "tempo dos mercadores", tempo laico, tempo do trabalho assalariado, tempo urbano, marcado pela torre do relógio cívico. Na sua opinião, o deslizar da hora dita "nona", a hora da pausa e da refeição na alta idade Média onde se situava à volta das catorze horas, é efectuado em aproximação ao meio-dia ("sexta"), permitindo a jornada dupla de trabalho.

Durante os séculos XVII e XVIII, o almoço ainda é servido entre as onze e o meio dia, e só no séc. XIX se atrasa de novo para entre o meio-dia e a uma.

A referência mais antiga parece ser a do monje Bento de Nursia (480-543), fundador dos beneditinos e inventor de relógios, que no Regulamento da Ordem escrevia:

Desde Pascua hasta el catorce de septiembre, desde la mañana, al salir de prima, hasta aproximadamente la hora cuarta, trabajen en lo que sea necesario. Desde la hora cuarta hasta aproximadamente la hora de sexta, dedíquense a la lectura. Después de Sexta, cuando se hayan levantado de la mesa, descansen en sus camas con sumo silencio, y si tal vez alguno quiera leer, lea para sí, de modo que no moleste a nadie."

E assim o 11 de Julho, celebrando São Bento, celebra também o patrono da sesta !

No meu caso, tendo deixado de me regular por jornadas ou sequer pelo relógio, almoço quando calha, tarde, e a quebra que se segue, o calor ajudando, pede sesta lá pelas 15 ... ou mesmo mais tarde.


Le Hammack, Gustave Courbet.

Afternoon Nap, Harry Mitten Wilson

La Siesta, Van Gogh, inspirado por Millet


A sesta de um homem, de boca aberta a ressonar, não é tão estética - deixo aqui o meu sofá preferido, mas vazio. Ma méridienne, quoi !

"Laissez-vous aller, allongez-vous, ne résistez pas à l'appel de la sieste, à ce plongeon voluptueux dans le sommeil diurne! Dormez, rêvez, rompez les amarres avec la rive du quotidien chronométré! Décidez de votre temps, siestez!"

Thierry Paquot – L’art de la sieste



4 comentários:

Virginia disse...

Mário,

Tinha decidido não dormir a sesta hoje pois levantei-me as 11 - tinha-me deitado às 2.30.
Mas este post abriu-me o apetite.....:)

Gosto muito de pessoas activas, mas adoro os apologistas das sestas. É que eu sempre dormi durante o dia, quando tinha aulas as 13.30, dormia das 12 à 13 ( levantava-me às 7 por causa dos filhos.
Mesmo agora, deitar-me em cima da cama e fechar os olhos é das coisas que mais prazer me dá!

O quadro de Van Gogh é notável....que luminosidade, que simplicidade nos traços. Adoro.

Vou já por uma vela a S. Bento. Bendita a hora em que a sesta foi inventada....

Mário R. Gonçalves disse...

Tinha de ser invenção italiana, como o 'dolce fare niente'.

Boas sestas estivais, Virgínia.

Paulo disse...

Sestas de sofá = as melhores.

Mário R. Gonçalves disse...

Paulo, :))