quinta-feira, 25 de junho de 2015

συμφωνία - uma sinfonia grega


Acordo, em grego, é  συμφωνία ou seja: sinfonia ! Belíssima palavra, polissémica.

Com tudo o que tem sido o "processo da Grécia", sobretudo desde que o Syriza foi eleito,  já não há outra saída honrosa senão o acordo, queira o FMI ou não. Se estou a favor da perda de soberania dos países em favor de um governo central da União Europeia, é porque quero este forte e firme, na defesa da Europa. Muito bem, abdicamos da fronteira,  da moeda, de muita legislação nossa, de preceitos constituconais até; mas queremos que o poder central europeu seja um factor de unidade, equidade e justiça, e que se afirme e dê cartas no plano internacional.

Portanto, se só o FMI está contra o acordo, por pressões próprias ou alheias, que vá bugiar o FMI. Aqui, manda a Europa. E se tive dúvidas sobre a capacidade do primeiro ministro Tsipras, agora tiro-lhe o chapéu pela resiliência, pela sabedoria tanto em ceder como em ser firme recusando.

Pela Sinfonia da Grécia na Europa, fica aqui uma obra do compositor grego Manolis Kalomiris (1883-1962):

Sinfonia nº1 - Levendia (*)
3º andamento: Festa Helénica à mistura com lamento -- Scherzo. Vivo.
(versão 1920)



(*) Levendia = Valentia !

segunda-feira, 22 de junho de 2015

W. B. Yeats, 150 anos neste Junho


Uma importante celebração, também neste 18 de Junho, foi a de Yeats, o grande poeta irlandês, nascido nesse dia em Dublin (1865). Os 150 anos estão a ser largamente comemorados pelo mundo:

http://www.yeatsday.com/yeatsday-2015/
http://yeats2015.com/
http://www.theguardian.com/books/2015/apr/28/irish-poet-wb-yeats-150th-birthday-celebrations


Já aqui publiquei várias vezes poesia do admirável Yeats. Hoje a minha escolha
é a Canção do Aengus Errante. 'Aengus' é uma divindade da mitologia celta/gaélica irlandesa, ligado ao amor, juventude e poesia.


Song of Wandering Aengus

I went out to the hazel wood,
Because a fire was in my head,
And cut and peeled a hazel wand,
And hooked a berry to a thread;

And when white moths were on the wing,
And moth-like stars were flickering out,
I dropped the berry in a stream
And caught a little silver trout.

When I had laid it on the floor
I went to blow the fire a-flame,
But something rustled on the floor,
And someone called me by my name:

It had become a glimmering girl
With apple blossom in her hair
Who called me by my name and ran
And faded through the brightening air.

Though I am old with wandering
Through hollow lands and hilly lands,
I will find out where she has gone,
And kiss her lips and take her hands;

And walk among long dappled grass,
And pluck till time and times are done,
The silver apples of the moon,
The golden apples of the sun.


O poema musicado e cantado pelo escocês Donovan:
https://www.youtube.com/watch?v=UQUT6mS0eY8



tentativa de tradução:

Canção do Aengus Errante

Saí para o bosque das aveleiras
Pois estava com a cabeça a arder,
Cortei e alisei um ramo de aveleira,
E atei uma baga à ponta de um cordel.


E, quando as brancas mariposas voavam,
E estrelas-mariposas se extinguiam,
Lancei a baga para um riacho
E pesquei uma trutazita prateada.

Quando a pousei no chão
Fui soprar o lume a avivar a chama,
Mas alguma coisa se moveu no chão,
E alguém chamou pelo meu nome:


Tinha-se tornado numa jovem luminosa
Com flores de macieira nos cabelos
Que me chamou pelo nome e correu
e se desvaneceu na luz do amanhecer.

Apesar de envelhecido de tanto vaguear
Por terras cavadas e terras elevadas,
Hei-de descobrir para onde foi,
E beijar-lhe os lábios e tomar-lhe as mãos;


E caminhar entre ervas altas salpicadas de luz
E colher, até ao fim do tempo dos tempos
Os pomos prateados da lua,
Os pomos dourados do sol.



sábado, 20 de junho de 2015

O dia mais longo (N), o dia mais curto (S)


No dia 21,  7% da humanidade não vei ter luz do Sol, passando uma longa noite de 24 h. Na Europa e América do Norte, pelo contrário, teremos o dia mais longo.


A Norte do Círculo Polar Ártico (66º 30' N), no domingo, será dia durante 24 horas.

Salekhard, Rússia (66º 53')  ): o Sol apenas toca no horizonte, e logo volta a subir.

Iqaluit, Canadá (63º 43' N): o dia dura 20h 12m

Anchorage, Alasca (61º 13' N): o Sol nasce às 4:20 e põe-se às 23:42 , são 19 h de luz.

Círculo polar antártico (66º 30' S): no domingo, o Sol faz uma breve aparição de segundos, com um pico de luz no horizonte, e desaparece. Mais a sul, é uma noite de 24 h.

City
Country
Latitude
Sunrise
Sunset
Day Length
Greenland
77° 29'
None
None
24:00
Norway
69° 40'
None
None
24:00
Alaska
64° 54'
02:56
00:52
21:56
Alaska
61° 09'
04:21
23:42
19:21
Russia
59° 53'
04:35
23:25
18:50


Um excelente mapa interactivo:
http://time.unitarium.com/events/longest-day.html



Bom Solstício !


quinta-feira, 18 de junho de 2015

Il signor Giorgio Morandi, f. 18 de Junho


Fora de moda, impopular, o pintor bolonhês Giorgio Morandi (1890-1964) pintou quase sempre "a mesma coisa". Sofre por isso de um injusto esquecimento.

Começou sob influência de Cézanne, Renoir, os primeiros futuristas, De Chirico, a pintura metafísica. Mas cedo rompeu com as vanguardas, e dedicou-se só a naturezas mortas, vasos de flores (poucos) e paisagens (ainda menos).



Até que estacionou sob um tema único - recipientes : vasos, garrafas, jarros, frascos, taças, copos, conchas, com uma total indiferença pelo que se ia passando à sua volta e no mundo.

Deste 'Botiglie e fruttera' de 1916 diz-se que é um dos mais belos do século.


O menos empenhado, o mais desatento dos pintores, um eremita indiferente ao frenético novecento italiano, Morandi pintava apenas objectos que tinha no seu quarto. Tensão ou erotismo é coisa que não existe nas suas aguarelas e gravuras.



Por outro lado, há uma procura, serena mas obstinada, da verdade intrínseca dos objectos, da essência das coisas - forma, côr e luz - que Morandi projecta numa espécie de metafísica suave.


O 'silêncio das cores' , uma esbatimento que impressionou Antonioni.


É quase um jogo a que se entrega afincadamente; Morandi torna-se mestre dos enquadramentos, do equilíbrio de conjuntos, dos jogos de luz e de cor nos volumes.


Com o tempo, foi simplificando, reduzindo as formas ao mínimo, à geometria de cones, cubos e pirâmides, a silhuetas sem perspectiva, a uma "densa pastosidade da matéria cromática". Um caminho pessoal para a abstracção.


Os objectos do quotidiano parecem respirar uma metafisica suave, evanescente, que condiz com a vida de solidão ascética do pintor.

Ausência de perspectiva, silhuetas - a realidade é só forma e abstracção.


Admirado por Antonioni, o realizador, Morandi teve obras suas no filme A Noite, e também na Dolce Vita de Fellini.


Faleceu a 18 de Junho, há 51 anos.

Sono un pittore di natura morta e voglio comunicare un senso di tranquillità e riservatezza, stati d'animo che valgono di più.
                                                                              Giorgio Morandi

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Fontes:
- Gabriele Simongini, artigo no Il Tempo
- Morandi, col. Génios da Pintura, ed. Fabbri/Abril Cultural, 1967



segunda-feira, 15 de junho de 2015

Daddy Longlegs, o combóio das pernas altas


Indústria, s.f., do latim industria , actividade.
- composta do prefixo “endo” = internamente + “sfruere” = pre­parar.


Foram heróicos, românticos, repletos de utopia, os belos dias da indústria. E se isso foi notável em toda a Europa, é na Inglaterra victoriana que mais se exaltou a paixão pela indústria, pelas máquinas, pela ciência aplicada, as descobertas e invenções que proporcionaram novas tecnologias. Estávamos no fim do século e a vida era bela. (*)

Brighton em "fin de siècle", uma estância de veraneio muito "chique".

Exemplo extravagante dessa quase loucura é o combóio de pernas altas, o "Daddy Longlegs", que percorreu durante os últimos anos do séc. XIX as praias da costa sul, no Sussex, junto à muito frequentada Brighton - o primeiro e único caminho-de-ferro submerso !

Tudo começou com um 'combóio eléctrico', o primeiro da História, requinte de uma indústria que aqui e ali já procurava evitar danos colaterais. Obra do engenheiro Magnus Volk, a precursora composição começou em 1883 a percorrer menos de 2 km de frente marítima ao longo do areal de Brighton.


Mas Volk queria prolongar a via férrea até à vizinha vila de Rottingdean, para transportar veraneantes. Só que, a nascente, erguiam-se enormes falésias brancas, semelhantes às de Dover, mesmo junto ao mar. Fazer a linha subi-las em rampa íngreme até ao alto e depois voltar a descer na estância seguinte era incomportável, como também o era recorrer a um viaduto encostado às instáveis falésias.
Falésias de gesso branco de Rottingdean.

Magnus Volk era descendente de um relojoeiro alemão, fascinado por maquinaria de precisão. Desde 1890, durante meses a fio, observou as marés e a consistência do solo arenoso junto à costa. E optou pelo inacreditável: construir a via à cota zero, abaixo da linha de maré, de modo a ficar parcialmente submersa apenas na maré alta ! A construção começou em 1894, e em 1896 a engenhoca entrou em funcionamento.


A linha consistia em dois pares de carris, distando cinco metros e meio um do outro, e mantendo uns seguros 25 metros da falésia.

O "combóio" era afinal uma única mas enorme estrutura de ferro - uma carruagem luxuosa,  com varanda a toda a volta e um trolley no tejadilho, tudo montado sobre 4 altas pernas com rodas. Motores com a potência de 25 cavalos transmitiam movimento por correias ao longo da pernas até às rodas. A electricidade corria num cabo elevado, ao longo da linha, por uma sucessão de mastros. A corrente de retorno vinha pelos carris na maré baixa, e na maré alta vinha pela... água do mar!


Nada que a nossa ASAE aprovasse. Embora a segurança fosse garantida pela presença obrigatória de um Capitão da Marinha (!) a bordo, e de barcos salva-vidas, como se de uma embarcação se tratasse.

De facto parecia uma barca, elevada sobre 4 pilares, a voar lá em cima, vários metros sobre as ondas. Nada menos que 45 toneladas de ferro, na altura não se brincava, solidez acima de tudo. Justamente baptisado Pioneer por Volk, ficou conhecido por Daddy Longlegs, ou "Papá de pernas altas".

Só no ano de 1897, 44 282 passageiros viajaram no serviço de combóio de Volk.


O Longlegs funcionou entre 1896 e 1901 com enorme sucesso, o serviço a bordo era requintado ( salão com cortinados, estofos, chá e bolinhos), e tudo 7 metros metros acima das ondas. Para 160 pessoas.


O combóio foi várias vezes obrigado a parar, por avarias ou para manutenção. Uma vez até tombou de lado durante uma tempestade e teve de ser reconstruído à pressa para a temporada de Verão.

O Daddy Longlegs chegou a ser comparado às máquinas dos marcianos no livro de Wells "Guera dos Mundos", acabado de publicar em 1898.


Vários contratempos foram prejudicando a regularidade das viagens a partir de 1900. Mas o que ditou a morte do Longlegs foi a falta de potência eléctrica. Arrastava-se penosamente durante a forte maré alta. Mover as 45 toneladas requeria mais poderosos motores eléctricos, e Volk não tinha meios para fazer esse investimento. Desmontado em 1901, enferrujou até 1910, e foi para a sucata.

Volks dirijindo-se para o seu escritório, sobranceiro à linha Brighton - Rottingdean; o edifício de madeira ainda existe, agora como Museu.


Do excêntrico invento, restam hoje vestígios da linha facilmente reconhecíveis na maré baixa, e o pequeno V.E.R., "Volks Electric Railway", em Brighton, uma atracção turística que percorre a praia.



Ainda continua a funcionar no troço original, desde 1910 entre o Brighton Pier e o areal, este brinquedo de carruagens eléctricas, que podem ser engatadas, nas horas de ponta, para maior capacidade.




Tive oportunidade de fazer a curta viagem durante a minha visita ao Surrey, em Junho de 2013.




Em 1910, era já o "new century" eduardiano, mas a euforia das invenções continuava. Que vitalidade, que poética criativa inspirava a indústria, esse motor económico que Portugal nunca, verdadeiramente, conheceu. E foi essa uma grande, grande fraqueza nossa.



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(*) agora que escrevi isto pus-me a pensar: terá sido esse fim de século - em que na Europa ainda vivíamos na inocência de genocídios e campos de morte, na inocência da poluição e do efeito de estufa, quando as utopias do "progresso" e da "descoberta" apaixonava as almas - a era em que fomos mais felizes ?


sexta-feira, 12 de junho de 2015

E este ano, como vamos de gelo nos Pólos ?


Os registos de Maio da extensão da camada de gelo no Ártico e no Antártico trazem um misto de tendências que não seria de esperar. Certezas, nenhumas.

A camada gelada no Norte está abaixo da média, mas não muito abaixo. É mau, sim, mas já foi bem pior.

Na Gronelândia, em todo o Arquipélago Canadiano e no nordeste da Rússia há uma boa cobertura de gelo. Mas o Mar de Barents, o Mar de Bering e parte do Alaska estão em perda, devido a uma temperatura marítima acima da normal.

Duas áreas em perda de gelo, uma a leste da Escandinávia no Mar de Barents, outra na costa oriental da Sibéria, no Mar de Bering (na zona do giro - ou vórtice - que faz circular as águas do Pacífico Norte).

A placa polar até esteve bem consistente. Serão os portos poluídos de Murmansk e Arkhangelsk (Rússia) os culpados pela temperatura mais elevada nessa área ? Ou as plataformas de extracção de petróleo?

Foto NASA

Dados médios do mês de Maio. Sobe e desce, mas a tendência é de descida.
http://nsidc.org/arcticseaicenews/

Por outro lado, a extensão de gelo no mesmo mês de Maio na Antártida bateu todos os recordes ! E de há 3 anos para cá continua a crescer a um ritmo mais elevado do que o da diminuição de gelo no Ártico.

Fora algumas bolsas, a extensão de gelo ultrapassa a média. Uma base australiana teve de encerrar por ter perdido o acesso.



Como se estivesse a haver uma transferência de gelo de um Pólo para o outro.


Fontes: NSIDC / NASA


quarta-feira, 10 de junho de 2015

"The Rules of Cricket", salmos a capella do séc. XIX, ha ha ha


'Silly Season' à porta, apetece-me rir, e nos últimos tempos nada me fez rir tão gostosamente como estas regras do cricket cantadas a capella à moda dos cânticos de salmos na igreja anglicana.

'Musical joke' escrito no século XIX pelo revº. William Henry Havergal (nomeado Canon da catedral de Worcester) na altura em que o MCC estabeleceu um novo código "The Laws of Cricket" (1884), coincidiu com a época em que o mítico jogador W.G. Grace criava também novos modelos e regras.

É aqui cantada uma adenda de 2003 pelo The London Quartet / Cantabile num disco que de resto não presta. Vale a pena seguir o precioso texto.


The Rules of Cricket – A Psalm Chant:

1. Addenda to "The Laws of Cricket", as
written by the | M. C. | C.: Two thousand code,
second e-|-ditión . two | thousand . and | three

2. With more than one hundred nations now
playing the wonderful | game of | cricket:
it is necessary to write specific | rules for |
cer-tain | territories

3. These rules must be taken with | all due |
seriousness: honour, gentility, | and a | pinch
of | salt.

4. The first MCC tour took place to the
United States of America in eighteen | fifty |
nine: nevertheless, they are still hopeless at
the sport, | Ha ha | Ha ha | ha.

5. France, despite being silver medal holders
of the Olympic | cricket | title: have | little . to be
| proud of | either.

6. No suggestions shall be heeded from America
as to how to "liven | up the | game": things
perhaps have gone far enough already, we are
now playing at night, to piped music, in pyjamas,
with dancing girls, white balls, no, scrub that,
pink balls; that reminds me, | must | go and |
wash my | box.

7. My beloved spake, and | said un.to | me:
"Oy you! You're going to the cricket again, me
and the | kids, we | ne-ver | see you..!"

8. In Europe, it is important that each side
respect one a-|-nother's | territory: occupation
of the crease will not be achieved by the laying
down of towels, even in the morning session, and
remember to polish the | bat, not | bat the | Polish.

9. The cut will be the most effective stroke in
the | Middle-| East: Nota bene -- some of the
English team | shall be | half-| cut.

10. If, at the behest of the captain, any player
should bowl re-|-pea.ted | no balls: the umpires
shall have the power to empty their | pockets.
of their | bundles. of cash.

| W G | Grace



polish the bat not bat the Polish !




domingo, 7 de junho de 2015

Os Moínhos de Maré, a mais antiga fonte regular de energia.


Uma visita a um Moínho de Maré no rio Rance, Bretanha, está na origem deste post. Momento Wiki.

Antes do carvão, do petróleo, da electricidade e do nuclear, eram escassas as fontes de energia disponíveis, numa extensão razoável de espaço e tempo. Era esse aliàs o principal travão que manteve o nível e a qualidade de vida tão mediocres como foram até ao séc XIX.

A força de trabalho dos animais (e dos escravos) não permitia mais que uma economia de sobrevivência extremamente desigual, sem perspectivas de evolução. Era a energia dos ventos a melhor alternativa, e há milénios que moínhos e noras garantiam o pão e a água em extensas regiões do planeta. Tecnologias ainda rudimentares, que já eram um progresso em relação à força animal, mas sujeitas à dependência dos ventos e a um curtíssimo alcance.

O salto mais significativo foi dado na Idade Média com os moínhos de maré. Desde o séc. XII não havia estuário de rio, ou larga ria de mar, onde as marés fossem amplas e a ondulação não se fizesse sentir, que não tivesse um ou vários moínhos de maré. A rede desses engenhos bem imaginados chegou a contar milhares pela Europa e América do Norte.


Cada vez mais se encontram dados arqueológicos que fazem antecipar a data dos primeiros moínhos de maré - uma recente descoberta datou um desses, na Irlanda, já no séc. VI .


No essencial, aproveitavam a regular subida de maré para aprisionar o máximo de água por trás de um dique, fechar as portas na maré alta, e tirar vantagem da diferença de nível de águas: durante a descida, fazia rodar a roda do moínho. Isto era possível praticamente todo o ano, duas vezes por dia ! Que coisa maravilhosa, uma energia garantida com essa regularidade !


À parte o dique, a principal peça do engenho era a roda. Tinha de ser fabricada com cuidado, sobretudo as pás, e rodar bem oleada sobre eixos debaixo de água. Nestas condições, a energia que debitava era bem firme e constante durante umas horas. Não oscilava, como os  moínhos de vento, nem tinha tão grande perdas porque a engrenagem se reduzia ao mínimo.

Moulin du Prat, estuário do rio Rance, Bretanha



Na História da produção de energia, os moínhos de maré têm um lugar relevante - foram a primeira forma de produção planeada e alargada, numa rede costeira por toda a Europa. E foram antepassados directos das barragens hidroeléctricas.

Eling Tide Mill, perto de Southampton - estuda-se a sua reabertura adaptando-o à produção de electricidade.

Há exemplares a trabalhar ou restaurados como museu em estuários de Inglaterra e França, no Báltico, e mais perto, nas rias da Galiza. Em Portugal, de muitos que houve sobram pelo menos quatro, a sul, no estuário do Tejo e na costa Algarvia.

Moínho de Alhos Vedros, Montijo.

Moínho de Estômbar, Lagoa, no estuário do Arade.

Moínho de marés de Olhão.

Em França abundam nos largos estuários a Norte, na Bretanha e Normandia, para o canal da Mancha, onde as marés atingem 18m de amplitude. Entre o cabo Fréhel e Cancale a costa é muito recortada, com inúmeras baías onde o fluxo e refluxo das marés pode ser aproveitado. De tal modo que há barragens modernas, como a do Rance, que funcionam sob o mesmo princípio e geram energia eléctrica durante as horas da maré descendente. É uma fonte de energia barata e fiável.
Moulin du Prat.