segunda-feira, 19 de setembro de 2016
A nona de Mahler na Casa da Música
Passados seis anos do início da integral, a Orquestra do Porto / CdM programou finalmente a 9ª sinfonia de Mahler. É uma obra gigantesca, desvairada, estrondosa e de um lirismo absolutamente genial, um monumento em música para nos deixar entre o esmagadinho e o boquiaberto.
Mahler descreveu a execução da 9ª com expressões como "sombrio", "com a máxima violência", "com raiva", "como uma procissão", "docemente cantado", "apaixonadamente", "levitando", "morrendo". Sobretudo "morrendo", muito repetido na pauta. Quando a compôs, estava muito doente e desesperado com problemas - morte da filha, desavenças coma esposa, má vontade das instituições de Viena que lhe faziam a vida cada vez mais difícil. Sentia que o fim estava perto.
Nesta sexta-feira foi o estoniano Olari Elts quem dirigiu; já o tinha ouvido e apreciado, não podia perder este concerto; e foi mesmo imperdível, Elts tirou o máximo que a orquestra pode dar, sobre-dimensionada para cumprir as indicações de Mahler. O som foi muito potente, cheio, doce quando era caso disso, equilibrado e sedoso. No final, os pianíssimos executados com grande expressividade, fazendo perdurar os finos filamentos das cordas suspensos no espaço da sala. "Levitando". Mas também as quase cacofonias fragmentárias do 2º andamento ("desajeitado e muito grosseiro") soaram excitantes de dinâmica e contrastes, com a orquestra toda solicitada num ritmo diabólico.
Enfim, a 9ª é o adeus de Mahler, os últimos compassos parecem esvanecer-se lentamente na distância e no tempo como se fossem uma despedida. Que volte sempre.
Deixo Karajan no adeus final:
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