Não sou nenhum entusiasta do Porto, nunca apreciei a tradicional sujidade e desleixo, muito menos a linguagem 'vernácula' e atitudes brejeiras; mas tenho de reconhecer que muita coisa mudou, para melhor; a cidade está mais luminosa e bem cuidada - nos arredores do hotéis, sobretudo dos melhores ; está mais convivial e desfrutada mesmo à noite - mas só à volta dos bares de tapas e petiscos; bebe-se melhor, com muita escolha - mas come-se mal, à base de enchidos, comida enlatada e processada, como a maldita "francesinha" ou o horrendo chouriço assado, a não ser que se paguem fortunas pela
cuisine gourmet; está mais limpa, finalmente !, mas vêm os grafiteiros sujar o que foi limpo; tem comércio mais variado, muitas lojinhas pequenas, familiares, mas muitas delas vendem lixo sob regateio e é-se mais bem servido num centro comercial.
Um destes dias tive um compasso de espera de três horas e fui da Praça da República, onde desagua a rua dos Mártires da Liberdade, escura, feiosa, descendo até à Praça Carlos Alberto e dos Leões - ou seja: desde um local ainda envelhecido e degradado até um foco alto do turismo, um Porto cosmopolita no sentido
lowcost &
airbnb.
Depois regressei, e fui rua acima fazendo fotos, a começar na Praça dos Leões; estava um dia glorioso de Primavera e apetecia gostar da cidade.
Os Leões no alto dos Clérigos, com a Lello, a Torre e as Galerias, é um dos sítios 'diferentes' que o Porto oferece.
A frente de cafés, no lado nascente; agora há também quartos para turistas.
O jardim de Carlos Alberto, numa praça agradável. A fachada era do Hospital da Ordem do Carmo, vai ser mais um Hotel de luxo.
Casas recuperadas.
ex-Escola nº 130, freguesia da Vitória.
À saida da Praça para a rua Mártires da Liberdade, a Companhia União de Crédito Popular, agrupando penhores e ourivesaria, desde 1875. Tem 60 000 clientes, mais que nunca.
A primeira surpresa rua adentro será a Livraria Poetria, nas Galerias Lumière (onde 'dantes' funcionou uma sala de bom cinema, o Lumière). As Galerias foram recuperadas recentemente, com espaços comerciais simpáticos à volta de um 'comedouro' central, tudo limpo e arejado.
Livraria Poetria
Montra : livros dos bons, sem atender às vendas nem às modas. Clássicos. Gostei muito e comprei o nº2 da Tlön, pequena edição colectiva de poesia.
Grande título, Tlön !
Logo acima, o sítio mais culto da rua: a Livraria Académica, alfarrabista de grande tradição na cidade.
Entra-se circunspecto, como em local sagrado.
Prateleiras preciosas, e bonitas !
A Livraria Académica foi fundada em 1912 e para aqui transferida em 1913.
Fica de frente para o Largo Alberto Pimentel:
O Largo é o passeio em frente à Fonte das Oliveiras, construída em 1718. Foi remontada neste local em 1823. O elemento decorativo é uma concha que envolve um golfinho.
Um pouco mais acima, numa zona manhosa abandonada ao entulho e onde estacionam carros (mesmo sendo zona pedonal), outro alfarrabista !
http://homemdoslivros.blogspot.pt/
A nova
Homem dos Livros; muito se lê por aqui, será de ter moradores acima dos 50, ou por ter algumas escolas superiores por perto ? Uma delas é de enfermagem, outra de jornalismo, gente pouco dada às letras.
Para variar, outra lojinha antiga, bem antiga, que já existia quando por ali andei também a estudar numa Faculdade já transferida para outro lado: o Mercado de Cedofeita. Não falta nada.
Alternam fachadas feias ou decadentes com outras bem interessantes.
O
218 tem um portal precioso em madeira decorada,
art-déco suponho. É o
V5 Bar, com música ao vivo - abre à noite:
E daqui para cima, num ambiente feio e velho, reinam as lojas de velharias.
bric a brac
Numa esquina, a melhor cafetaria/confeitaria da rua - a
Confeitaria Royal:
Lá tomei o meu cafézito. As glórias são 'especialidade'.
Continuando a subir a rua, muitas varandas de ferro corridas, estilo das casas pobres do porto de séculos passados.
E de repente toda aquela estreiteza sombria desagua na luminosa (mas feia) Praça da República e o seu amplo jardim central.
Palmeiras num jardim pouco cuidado, torres da Lapa ao fundo.
Dos bancos à antiga portuguesa gosto, do jardim nem por isso.
Numa praça feia, o correr de fachadas mais interessante é na ala nascente.
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E mais uma vez uma nota literária a terminar: a revista
Tlön.
http://tlonrevistaliteraria.blogspot.pt/
Tlön, planeta fantástico imaginário de
Jorge Luis Borges, é agora também uma revista literária de periodicidade semestral. Nº1 dedicada ao Sonho, nº 2 à Infância.
Hei-de seleccionar um poema para publicar aqui no
Livro.