sábado, 1 de dezembro de 2018
Balanço do ano: maravilhas que ouvi em 2018 (CD)
Do que ouvi a estrear em 2018, algumas gravações já são bem antigas...
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Dirigidas por Phillipe Herreweghe, as duas oratórias de Haydn, A Criação e As Estações. Coros fenomenais - Collegium Vocale de Ghent ! -, a orquestra dos Champs Élysés sublime e uma direcção 'perfeita'. Não imagino melhor. René Jacobs compete a nível de orquestra, mas perde nas vozes. (PHI, 2014)
Ode a Santa Cecília de Handel pelo Dunedin Consort, 2018. Não é 'a' versão definitiva, como se anunciava; mas está ao melhor nível em termos orquestrais, sem dúvida o Consort estudou a fundo esta interpretação dinâmica, cristalina; mais uma vez, Carolyn Sampson é estratosférica (sem atingir contudo a prestação histórica de Felicity Palmer) mas a prestação dos restantes solistas é apenas mediana - falta 'paixão' nestas vozes...(Hanssler, 2018)
Depois de premiado noutro disco de Bach, Masaaki Suzuki voltou em 2016 com a Grande Missa em Do menor K 427 de Mozart, mais o Exultate Jubilate com Carolyn Sampson. Confesso-me 'fan' desta senhora: como em todas as suas gravações que antes ouvi, também nesta a voz de Sampson é um prazer que nunca cansa, o timbre e a firmeza inultrapassáveis. (BIS, 2016)
Não me costumam agradar concertos dirigidos pelo solista - do cravo, do piano, do violino. Neste caso abro uma excepção porque a orquestra é de tal nível que pouco se nota a "falta" de direcção em momentos fulcrais. A Royal Northern Sinfonia, de Newcastle, interpreta os concertos para piano de Beethoven com Lars Vogt no piano e direcção. (Ondine, 2017)
Não posso deixar passar ainda a leitura invulgar de Teodor Currentzis para a 6ª de Tchaikovsky, Patética. O que se conhece dele não deixava adivinhar estas incursões no romântico, mas ele concilia o impacto dinâmico que lhe conhecemos, com fortes contrastes e sem rubato, com um lirismo inesperado; o célebre allegro con grazia é mais rápido do que habitual, ganha em fluência e graça dançável o que perde em maneirismo e ostentação. Digamos que tentou 'desenfatuar" Tchaikovsky, o que tem o seu mérito, pois mesmo assim ainda é por vezes empastelado e entediante. Não deve haver muitos compositores tão incapazes de contraponto, por exemplo. (Sony, 2017)
A Tafelmusik foi durante umas décadas inultrapassável nas sinfonias de Haydn. Nunca tinha ouvido a nº 47 'palíndromo', esgotada no mercado. Dirigida por Jane Lamond, a gravação já é de 1994! Mas ouvi-la assim pela primeira vez é uma revelação. Há uma alternativa nada má, mas não atinge a perfeição do Tafelmusik: Thomas Fey com a sinfónica de Heildelberg. (Sony,1994)
A terminar, Brahms. Em 2017, finalmente, uma gravação actual, refrescante, muito estudada e preparada: a edição completa das Sinfonias por Robin Ticciati e a sua Scottish Chamber Orchestra. Nem maestro nem orquestra têm tradição nenhuma deste reportório: foi mesmo uma aventura a partir do zero. Resultado: nunca se ouviu Brahms com esta precisão e concisão, quase de câmara, com este destacar da percussão e metais relativamente à menor dimensão das cordas. Desempastelado, como o 'Tchai' de Currentzis - mas Ticciati vai mais longe. Nem tudo agrada, claro, quem se péla pelo pathos brahmisano tradicional não vai apreciar. As cordas da Scottish não tem a macieza das orquestras de Berlim ou Viena. Para gostos ultra-românticos, Ticciati pode parecer 'seco' e mecânico, é preferível outra escolha (Chailly, Nelsons). Mas nunca se ouviu com esta urgência o 1º andamento da segunda sinfonia, esfuziante, electrizante ! Bastava a garra formidável com que dirige toda a segunda para entrar na minha galeria de maestros. Com Ticciati a Scottish Chamber Orchestra faz milagres de dinâmica e coerência, oferece Brahms como nunca antes fora ouvido - preciso, tenso, transparente, detalhado, sóbrio. Já tenha sido tentado por Harnoncourt, mas... Thanks Robin !
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