sábado, 15 de dezembro de 2018

Ulukhaktok (Holman), aldeia inuit com arte na llha de Victoria, Canada


Mais uma visita virtual ao Ártico remoto.
-------------------------------------------------


O Arquipélago Ártico do Canadá, região do Nunavut, foi intensamente explorado por navegadores britânicos no século XIX, sob o reinado auspicioso da Raínha Victoria; uma das ilhas, a 'Victoria Island', é de tamanho mediano (ainda assim a oitava maior do mundo), com cerca de 200 000 km², povoada escassamente por apenas duas aldeias nativas inuit: Cambridge Bay e Holman.

Holman foi rebaptizado com o nome nativo Ulukhaktok ("lugar onde existe material para ulu”) em 2006; fica na costa ocidental, região rica em cobre, razão porque os famosos machados ulu são lá fabricados. Campo de golfe na tundra (diz o painel), é a brincar.

Faca ou machado ulu, que os inuit usam para cortar as carnes.

Ulukhaktok fica numa planíce costeira rodeada de montes.

A pequena aldeia cresceu em volta de uma baía, gelada a maior parte do ano.

População:     aprox. 450
Coordenadas:  70° 44′ N, 117° 46′ W
                        (quase 500 km acima do círculo polar)


Como é habitual nas comunidades do Ártico, caçar, capturar (com armadilha) e pescar são as actividades dominantes. A fauna terrestre inclui raposas e ursos, bois almiscarados e caribus, mas sobretudo espécies marinhas.

A rua principal.

As casas, em regra de madeira com reforço isolante, são construídas sobre estacas; à porta há em quase todas um ou mais cães esquimós.


A 'nova' igreja anglicana

A famosa companhia britânica Hudson Bay Co, que instalou dezenas de entrepostos para o negócio de peles à volta da Baía de Hudson, começou por se estabelecer, em 1923, na margem norte do Prince Albert Sound; desde 1939 mudou-se para Holman, que nasceu de um pequeno posto e uma igreja.

A igreja original, da era Hudson Bay Co. 

Desactivada, é edifício histórico da aldeia.

Visto da escola, o nascer do sol no final de janeiro, cerca das 11.30. Neste caso, nasce em parhelion (triplo sol).

O Ártico no que tem de único.

Biatlo com sapatas de neve - dois atletas de Ulukhaktok vão estar presentes nos Jogos de Inverno do Ártico (AWG).

Como outras comunidades inuit da região, Ulukhaktok tem o seu Inuit Arts Centre, onde mantém e renova formas artesanais como escultura em osso, gravura, tecelagem e bordado.


Litografia e impressão a relevo em pedra são as técnicas mais usadas. Escolhi alguns artistas locais e algumas das suas obras:

Mary Okheena (n. 1957)

Muskox in a storm

Young bull at play, 2003

Ice fishing, 1989


Mary Okheena é presença obrigatória na colecção anual de obras impressas de Holman. Okheena é já da terceira geração de artistas gráficos organizados no Centro de Arte local. Combina a tradição inuit dos antecessores com influências do Sul e do Ocidente.

Helen Kalvak (1901-1984)

Helen Kalvak levou uma vida de permanente migração durante o século XX; estabeleceu-se em Holman desde 1960.

Fishing

Acrobatics

Susie Malgokak (n. 1955)

Travelling by night fall

Racing downhill

Outra técnica usada é escultura em osso ou marfim da fauna local.

Escultura em corno (anónimo).Detalhe:


Ulu, por Ron kalak

Brincos Ulu, de Mary Jane Nigiyok


A Ilha Victoria

A ilha é quase toda pedregosa com tapetes de tundra rasa, sem floresta, só com alguns arbustos anões. A costa é muito recortada, com fiordes e enseadas, penínsulas e ilhotas. Alguns montes sobressaem, e o rio Kuujjua com canyons que atraem aventureiros de kayak; mas na primavera toda a desolação se transforma em cor, com musgos e líquenes e algumas variedades floridas, como a muito emblemática Purple Saxifrage presente em quase todo o Ártico.

Salgueiro ártico (Salix polaris), um arbusto de 10-20 cm.

Uma manada de Musk Oxen (boi almiscarado) em formação de defesa na ilha Victoria.
Uma Saxifraga púrpura florida.

O rio Kuujjua nasce no centro da ilha, de início um fiozinho de água, serpenteia suavemente pela tundra, percorre uns 350 km ganhando velocidade e volume à medida que atravessa terreno mais rugoso, apertado em canyons entre rochedos de basalto. Vai despejar no estreito do Príncipe de Gales, em Minto Inlet.


Primavera na tundra junto ao rio, com o monte Pelly ao fundo.

Pelly foi governador da Hudson Bay Co. . Na procura pelos sobreviventes da expedição Franklin, o explorador John Rae escalou os 200 m do monte pela primeira vez. Ovayok é a denominação inuit.


Minto Inlet, uma concha de mar na costa ocidental, a norte de Ulukhaktok

O rio Kuujjua é procurado também pela pesca do salmão do Ártico (arctic char), peixe de grande dimensão muito apreciado.

Um 'arctic char' sob o gelo

E quanto a História:

O primeiro momento de fama da região surgiu com a procura da rota para a Passsagem do Noroeste, que decorreu no século XIX/XX nas águas em torno da Ilha de Victoria. Várias expedições por aqui andaram, umas mais desastrosas que outras: John Franklin (1845), Robert McClure (1850), finalmente Roald Amundsen (1906) no Gjøa com total sucesso. Todos exploraram e mapearam a ilha.

A Passagem do Noroeste contorna obrigatoriamente a Ilha de Victoria.

Durante a procura de sobreviventes da trágica expedição de Franklin, o veleiro “HMS Enterprise” também passou o Inverno 1851-52 na ilha, em Winter Cove, uma enseada onde os marinheiros construiram um cairn (marco de pedras empilhadas) com mensagens escritas, para os marinheiros de Franklin saberem que andavam europeus à sua procura.

O 'cairn' de 1852 em Winter Cove.

Sol da meia noite...
... e, claro, auroras boreais:





Sem comentários: