- longo relato baseado em procuras na web -
Ainda mais inóspito, desolado e deprimente que a Sibéria, só as ilhas do Ártico semeadas a norte da sua costa. É o caso da Ilha Wrangel, já conhecida desde o século XIX, visitadas por várias expedições, e usada pela população nativa como base temporária de caça e pesca, mas nunca para habitação permanente. Mesmo na era paleo-esquimó a ocupação era intermitente, dependendo do clima e da abundância de caça. Até há pouco, havia só uma comunidade de nativos pescadores e um destacamento do exército russo encarregado da vigilância das águas territoriais. Agora são mais visitadas, e habitadas por guardas e militares; os ursos polares vêm cada vez mais frequentemente para sul, onde existem dois povoados, Ushakovskoye e Zvyozdny. Pouca gente conhece como vivem, pouca gente alguma vez ouviu falar de Ushakovskoye, sinto sempre uma espécie de vertigem ao pensar em como há humanidade que vive em formas e em territóros tão variados e difíceis.
Costa sul da ilha Wrangel. Ushakovskoye fica na estreita faixa de terra litoral.
Em parte por estratégia territorial, em parte para turismo de aventura, a presença humana tem sido reactivada após várias décadas de abandono pós-soviético. Criou-se uma Reserva Natural Protegida pela fauna, geologia e tradições nativas, a mais ártica e remota das reservas naturais russas. Mas em boa parte é fogo de vista para convidados e reportagens de publicidade turística; a imensa pobreza de vida e o desleixo com o território são convertidos em curiosidade para visitantes condescendentes, que pasmam com as cenas de vida "autêntica", "primitiva", "intocada", vista à distância do navio de cruzeiro - os turistas não podem desembarcar.
1ªParte
Ilha de Wrangel
Fica no Oceano Ártico, entre o mar de Chukchi e o mar oriental siberiano. O seu território é atravessado pelo meridiano 180º Oeste.
Coordenadas: 71°59′ N, 179° 25 W
A Linha Internacional de Mudança de Data foi deslocada para Leste nesta latitude acima de 70º N para evitar dividir a ilha em duas datas, tal como a península de Chukchi. A terra firme mais próxima da Ilha de Wrangel é a pequena ilha rochosa de Herald , 60 km para nascente. A costa da Sibéria está a 140 km, através do mar de Chukchi.
A Ilha tem cerca de 125 km de largura e 7 600 km2 de área. A costa sul é plana, há um cinto central de relevo mediano e uma vasta planície a Norte.
Um mapa da Ilha Wrangel mostrando o terreno, a fauna (ursos, focas e bois almiscarados), o porto de Zvyozdny e a 'estrada' entre Ushakovskoye e Dream Head.
Está classificada como Reserva Natural Restrita desde 1976, um estatuto de protecção elevada que restringe quase totalmente a actividade humana, excepto para fins científicos. Em 2004 as duas ilhas foram integradas na Lista de Património Mundial da UNESCO. Desde então há pelo menos quatro guardas da Reserva a residir na ilha, e uma equipa de cerca de doze investigadores nos meses de Verão.
A variedade de espécies protegidas é grande, mas o Urso Polar tem aqui a sua maior comunidade em todo o Ártico, mais de duas centenas, junto ao Cabo Waring (costa leste) e ao Cabo Blossom (sudoeste). Na ilha estima-se existirem uns 600 exemplares.
Branco sobre branco, descubra o Urso.
A montanha mais alta é a Sovetskaya com 1096 m.O cinto de relevo leste-oeste termina no mar com falésias rochosas de ambos os lados.
O Rio Gusinaya atravessa a ilha de nascente para poente.
'Dream Head' na costa Norte
O que resta do farol de Cabo Florens, na costa oeste.
Uma língua de areia que forma o Cabo Blossom, no sudoeste da ilha.
Na Primavera e Verão, a maior parte do terreno (tundra) é cruzado de correntes de água sazonais resultantes do degelo.
A tundra quase intocada é uma das riquezas da ilha, onde vive a fauna nativa.
História
Para além do vago conhecimento que já havia, quem comprovadamente veio pisar terra na Ilha Wrangel foi o americano Thomas Long em 1867, que lhe deu o nome Wrangell em homenagem a Ferdinand von Wrangel, navegador báltico que nunca lá chegou a desembarcar. Depois de mais algumas tentativas falhadas de expedições árticas do Reino Unido, do Canadá e dos Estados Unidos (ver Karluk, na 2ª parte), procurando reclamar a sua posse, foi o Governo Soviético, em 1926, que efectivou a sua soberania sobre a ilha; para dar mais consistência fundou a povoação de Ushakovskoye em Agosto de 1926.
A população inicial - famílias deslocadas de etnia Chukchi e Russas - não ia além de 60 pessoas; algumas ficariam a viver em permanência na ilha, recorrendo à abundante caça e pesca. Foi mesmo um caso de sucesso, de tal forma que uma segunda aldeia, Zvyozdny (= Estrela), ou Zvëzdnyy, foi fundada 30 km a oeste de Ushakovskoye, nas praias de Somnitelnaya Bay, que já antes eram frequentadas pelos baleeiros americanos.
Em Zvyozdny há sempre uma casa mantida em condições de abrigar os guardas do parque natural ou algum visitante aventureiro.
Também as equipas de investigação científica sazonal podem ser acomodadas em casas recuperadas.
Os guardas dispõem de veículos adaptados às condições do terreno.
Zvyozdny viria mais tarde a ser o local de abastecimento da ilha por via marítima a partir de Mys Shmidta, na costa siberiana, assim como da entrega de correio para Ushakovskoye, que tinha de percorrer o enlameado trilho de terra batida entre os dois aldeamentos.
Zvyozdny está situada numa baía que foi baptizada pelos baleeiros americanos de outras eras com o esplêndido nome Doubtful Harbour. É, digamos, um sítio pitoresco pela desolação, sobretudo quando é invadido pelo nevoeiro vindo do mar. Mas os guardas têm vindo a limpar e pintar, fazendo alguns restauros básicos. Também a estação meteorológica, há décadas reduzida a sucata e detritos, foi parcialmente recuperada e reactivada.
A grande Estação Meteorológica, agora abandonada, é uma curiosidade patrimonial.
O aglomerado mais importante da ilha ainda é Ushakovskoye. Fica para a 2ª parte, em breve.
1 comentário:
Olá amigo! Só agora consegui voltar. Inscrevi-me num desafio que encontrei num blogue e ontem à noite ocupei-me disso. Mas até já me arrependei. Para que preciso eu de um desafio para escrever? Eu preciso é de um para não escrever...Nunca me falta sobre o que escrever nem a vontade, não posso é passar o tempo a escrever. Gostei imenso de ler sobre estas paragens remotas. É realmente incrível que os homens se fixem em locais tão inóspitos. A tranquilidade e a pureza daquele ar e território são inspiradoras. É bom que seja uma reserva, assim os animais estão protegidos...
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