domingo, 8 de setembro de 2019

Ushakovskoye, ilha Wrangel (II) + a viagem do Karluk


2ª Parte

Ushakovskoye, Rogers Inlet, Wrangel
Coordenadas: 70° 59′ N, 178° 29′ W
População: ~200 em 1990, abandonada em 2003, ? actual

Ushakovskoye vista do mar

Dos 200 habitantes não sobra já ninguém, a aldeia só é ocupada sazonalmente pelos Guardas das Ilhas e as ocasionais equipas de investigação cientifica.

Residências dos antigos habitantes

Ushakovskoye cresceu e desenvolveu-se até finais da década de 1970; tinha escola, club de convívio, uma loja, correios, hospital e mesmo fornecimento de electricidade a todas as casas; um modesto museu local de história natural, uma armazém subterrâneo debaixo do permafrost  para conservar carne e peixe, uma estação polar, biblioteca, e os banhos colectivos com sauna !

Em 1984 já viviam em Ushakovskoye 180 pessoas. Com a mudança de regime os subsídios foram cortados, muita gente veio embora, e em 1994 aportou o último navio de provisões e combustível. Zvyozdny também foi abandonada - em 1997 decidiu-se realojar toda a gente em Mys Shmidta - mas pelo heliporto, construído em 1966, é possível manter o fornecimento à aldeia. O derradeiro residente foi morto por um urso polar em 2003.

A loja, ou o que resta dela para a fotografia.

A cabana restaurada para alojamento, com protecções contra ursos nas janelas.

Protecção contra ursos montada numa janela.

Posto dos correios. Património ou simples ruína?

Como era de prever, com o aumento de temperaturas no ártico a Passagem do Nordeste abre-se à navegação e a ilha de Wrangel adquire maior valor estratégico: em Ushakovskoye está a contruir desde 2014 uma grande base naval ! Os guardas do Parque Somnitelnaya já só ficam em em Zvyozdny.

Parque Somnitelnaya

Contrastes árticos

Corrente de degelo pela tundra verde, ao sol do verão ártico.

A infatigável curiosidade dos ursos

Os animais mais frequentemente avistados são corujas da neve, raposas do ártico, bois almiscarados, rebanhos de renas e, claro, ursos polares às dezenas.

Este tenta passar pela janela de sótão da escola.

A raposa branca, um dos mais belos animais do planeta.

Renas na praia, junto à falésia

Coruja das neve.

Não, não são pinguins! São Airos (Guillemot, Uria aalge) numa placa de gelo.

Gansos brancos voando em formação.

Falésia de nidificação de aves.

Lua cheia em Zvyozdny

 
Raposinhas a brincar no crepúsculo.

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A Viagem do Karluk

Há uma epopeia náutica que terminou aqui nas Wrangel - uma expedição ao Ártico mal preparada, que partiu de Nome, no Alasca, no final de 1913 e terminou em 1914 com o navio Karluk esmagado pela pressão daa placa de gelo oceânica. A tripulação e os cientistas tiveram de caminhar em enorme dificuldade 130 km sobre o gelo até encontrarem terra firme na ilha Wrangel.  Daí, o capitão Bob Bartlett partiu sobre o gelo para alcançar ao continente siberiano, guiado por um caçador Inuit chamado Kataktovik.

Para ajudar a expedição, uma família inuit de Barrow, no Alasca, subiu a bordo em troca de promessas. Enquanto Bartlett e Kataktovik corriam através de mil quilómetros de oceano gelado à procura de resgate, os restantes construiram uma pequena aldeia com pedra, madeira e gelo para melhor suportarem o verão Ártico. Mas muitos foram morrendo de subnutrição e doenças, pois apenas conseguiam algum peixe com meios artesanais de pesca e a comida enlatada continha chumbo.

Essa 'saga' está romanceada e ilustrada num livrinho de que já aqui dei notícia, The Lamp, the Ice and the boat called Fish.

 

Mugpi (Makpii) era o membro mais jovem da expedição - uma menina de anos.

Com a madeira de caixas e barris recuperados do barcom constriram cabanas sólidas.

She had to wear goggles, too. Otherwise, the sun and snow
would cause snow blindness. Some wore goggles of amber glass.
Makpii didn't have to wear so many clothes
because she rode inside her mother's parka.


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1 comentário:

Belinha Fernandes disse...

Impressionam-me sempre estes relatos de sobrevivência no árctico! E então não é que a gata sobreviveu a tudo até mesmo para ter ninhadas? Como sou - e cada vez mais - uma friorenta, sei que morreria só de avistar gelo. São locais maravilhosos, há no Youtube uns vídeos lindos, lindos, mas eu nunca teria coragem, nem no tempo presente, com navios mais robustos e aquecimento e tudo isso, de me aventurar. Agora imaginem-se estes homens, o tormento. Muito bonito livro!