quarta-feira, 15 de julho de 2009
Mahler e Hesse
"O Mundo já pouco tem para nos oferecer, parece muitas vezes constituir-se de pouco mais do que barulho e receio, mas o certo é que a erva e as árvores continuam a crescer. Quando um dia a terra estiver completamente coberta de caixotes de betão, as nuvens continuarão a correr no céu e adquirir sempre novas formas, e aqui e ali as pessoas, por intermédio da arte, precisarão de manter uma porta aberta para o divino. "
Hermann Hesse in Elogio da Velhice
Parcialmente contemporâneos, Gustav Mahler e Hermann Hesse partilharam um mesmo mundo em convulsão, as mesma paixões da passagem do romantismo à modernidade, a mesma busca do espiritual que pudesse salvar o homem sofredor de uma realidade cada vez mais hostil.
O "Jogo das contas de vidro" é, em Hesse, um equivalente à Segunda de Mahler. Tem tudo da arquitectura de uma sinfonia: andamentos, temas retomados, crescendos e diminuendos, tutti, múltiplas melodias e complexas harmonias. Tem a solidão e a miséria humana, a paz e a ressureição , como em Mahler. A Segunda tem dissonâncias e quebras de tonalidade, também o Jogo.
Mutos paralelos se podem fazer mais genericamente entre a obra e a vida de um e a de outro. Mas no final tudo se resume a isso: manter uma porta aberta para o divino.
Notando que deuses, somos nós.
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4 comentários:
Lá terei de ir à procura destes paralelos. Obrigada, Mário, pela maneira sedutora como propõe estas buscas.
:) welcome!
«núvens»? «continuarão ... adquirir»? Quem traduziu assim Hesse, com as vírgulas lançadas ao acaso?
Obrigado e desculpe, vou efectuar a correcção. Tirando "núvens" que foi culpa minha, o resto é a tradução de Paulo Rêgo, ed. DIFEL, 2002.
Já agora, sendo tão exigente, podia ser mais bem educado.
Mário
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