sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Daniel Barenboim: a mediocridade esperada


Não espero que concordem comigo, mas é a minha opinião de há já muito tempo.

Arte e politica não convivem nada bem. Sobretudo quando esse convívio vai no sentido de a Arte servir a Politica. É o caso de Barenboim, pianista e director de orquestra medíocre, de quem não conheço uma única gravação de referência ou concerto de excepcional qualidade.

Barenboim toca e dirige como um apaixonado sem mestria: quase sempre exibe controle técnico razoável, competência mínima - mas uma agógica tosca, às vezes brutal, outras vezes caótica, sem modulações nem sensiblidade, preocupado apenas, além da técnica, com o impacto e a teatralidade. Típico de alguém que se serve da música para passar uma imagem e conquistar adeptos com efeitos fáceis, em vez de servir a música e o autor arriscando ser impopular. O seu Wagner no médio oriente é disso exemplo, o seu Chopin em Lisboa também.

Nunca percebeu, por exemplo, a renovação interpretativa e o entusiasmo pela música antiga, com a sua disciplina interior, que acha "burguesa" e "comercial"; a forma como dirige Mozart (como se fosse Bruckner) é abominável; nunca se apercebeu de que o romantismo não exige martelar fortíssimo no piano ou nos tutti de orquestra, fazer batota com floreados "virtuose" e descambar numa desmesura disparatada, mas viver uma individualidade que não é a sua de forma intensa e interiorizada.

Podemos simpatizar com o homem, os seus ideais e os seus motivos; é o meu caso - apoio a sua causa humanitária e a favor da paz. Mas não esqueço que não passa de um músico vulgar à procura de auditório político.

Pergunto: porque é recebido de forma tão encomiástica, media incluídos, quando comparado com a modéstia ou ignorância com que são tratados pianistas geniais como Sokolov ou Kovacevich, ainda há pouco em Portugal com salas pouco cheias ?

Tal como os tais cantores que disfarçam uma voz menor com muita teatralidade de gesto, Barenboim disfarça a sua menoridade com a multiplicidade de entrevistas, tomadas de posição, a publicação de livros e a gestão de imagem em concerto.

Pode ser outra coisa, mas de música tem pouco.

(reacção ao concerto de 21 de Setembro)

9 comentários:

Anónimo disse...

Não conheço suficientemente o trabalho dele para ter opinião válida. Ainda assim, doeu ler isto. À primeira indignei-me. Ia até deixar de subscrever o blg. À segunda consegui ler:

"Podemos simpatizar com o homem, os seus ideais e os seus motivos; é o meu caso."

E assim consegui ler uma terceira vez, só para perceber onde andava afinal a mediocridade. Li:

"nunca se apercebeu de que o romantismo não exige martelar fortíssimo no piano ou nos tutti de orquestra, fazer batota com floreados "virtuose" e descambar numa desmesura disparatada"

Ouvi-o já com o currículo dele lido. Ouvi-o sem o meu ouvido leigo, mas crítico. Gostei. Espero ouvir de novo e ver que o Mário está enganado. Espero poder continuar a discordar.

Eu que tinha arranjado um Maestro poderei ficar sem nenhum de novo. Propõe algum para preencher a vaga?

Mário R. Gonçalves disse...

Viva! Ainda bem que discorda, ultimamente toda a gente concorda comigo...

Se não conhece suficientemente o trabalho dele para ter opinião válida, como é que "tinha arranjado um maestro"? Estranho...

Em minha opinião, Barenboim é apesar de tudo melhor pianista que maestro - nesta função descamba frequentemente para os tiques que apontei. O que não quer dizer "sempre".

Como maestro preferido (suponho que só fala dos vivos...), não falta escolha - de Abbado a Harnoncourt, de Rattle a Zinman,passando por Jacobs, Christie, ou MacKerras. Mas, em regra, cada um tem a sua área de excelência.

Claro que se tenho alguma aversão pela direcçao musical de Barenboim é em termos comparativos - há sempre alguém que fez, ou faz, muito melhor do que ele.

Lamento ter causado tamanha reacção da sua parte. É tão raro postar comentários aqui...

Alberto Velez Grilo disse...

Mário

Baremboim é, ou era, um óptimo pianista. Na minha opinião de leigo, que nem aprecia piano por aí além.

Quanto à sua actividade de maestro, acho que não merece tanta crítica negativa da sua parte.

Mas, o senhor é uma estrela e os defeitos por si apontados, são os que, geralmente apontamos à estrelas.

Um abraço

Anónimo disse...

A verdade é que eu ainda estou a dar os meus passos na música erudita. Comecei em 2003. Descubro um compositor e vou ouvindo até me vir parar outro às mãos. Não tenho pressa. Penso que procurar por maestros será o passo seguinte. Baremboim veio ter comigo um dia na Fnac, depois de um dia mau. Cheguei, sentei-me "auditório" e vi um dvd dele. Foi assim que arranjei um Maestro. Não foi por selecção.

Até agora apenas sei qual é o meu interprete favorito das Suites de Bach para violoncelo. Foi a única coisa que procurei o suficiente para poder escolher.

Obrigada pela lista. :) É bom aprender com quem sabe mais do que eu. Não conheço muitas pessoas (conhecerei alguém?) que me poderá orientar neste mundo da música. O que tenho são estes blogues interessante que leio. Daí o impacto da sua opinião em mim.

Mais uma vez, obrigada.

Bom fim-de-semana!

Mário R. Gonçalves disse...

Alberto: eu avisei que já esperava discordância...há alguma obra em que aprecie a direcção de Barenboim? Eu, do que conheço, não.

Humming: escolher bem para as suites de Bach? mas começou excelentemente! além de ser uma obra suprema e intemporal,a escolha de violoncelistas é ampla e as diferenças às vezes abissais. Ainda não consegui reduzir a escolha a um só...

Quanto ao "aprender com quem sabe mais do que eu", cara amiga, só sei que nada sei; aprendemos todos um pouco uns com os outros, ouvindo, e no meu caso bem gostaria de estar mais perto da sabedoria.

Obrigado pela participação, e de vez em quando volte, que é bem vinda.

Vou estar mais atento ao seu blog.

Abraço,

Mário

Fernando Vasconcelos disse...

Pois não concordo mesmo. Barenboim está muito longe de ser um maestro ou pianista medíocre. Acho que se pode discutir se enquanto maestro faz parte de um top 10. Penso que não mas daí a medíocre vai uma grande distância. Quanto à sua actividade enquanto pianista, aquela que eu conheço melhor por acaso tenho uma gravação dos nocturnos de Chopin que está entre as minhas preferidas. Por outras palavras é verdade que não está no top 10 mas está com toda a certeza no top 100 tanto enquanto pianista como maestro e nessa lista não há propriamente lugar para a mediocridade acho eu. Portanto é verdade discordo em absoluto da sua opinião.

Mário R. Gonçalves disse...

Há uns anos tive várias pessoas contra mim por apreciar Georg Solti como um dos maiores maestros do fim do século, com algumas das suas gravações e concertos absolutamente geniais. Desagradou-me profundamente que esses amigos meus e da música o ridicularizassem.

Por isso compreendo a reacção. Quem ama profundamente a música tem por vezes paixões (com ou sem razão) e ódios, palavra forte demais para o caso, mas na verdade não estou para perder tempo com quem não faz música como eu gosto; quando é pateada, é pateada mesmo.

É assim a minha reacção à flor da pele mas informada e comparativa: o maestro Barenboim não está entre os meus preferidos. É particularmente primário na atitude perante o barroco, é um apreciador das doutrinas de Adorno que eu rejeito convictamente, tem tiques de pianista disparatados no romantismo, e é um intérprete que não criou escola nem deixa marcas como muitos outros criaram ou deixaram.

Se fui ao concerto, está bom de ver que não o considero uma nulidade. O que confirmei é quão grande é a distância entre o "prestígio" mediático e a prestação do artista. Só isso. Uma d-e-c-e-p-ç-ã-o confirmada.

Fernando Vasconcelos disse...

Mário repare que eu utilizei o mesmo adjectivo que utilizou: "medíocre". Palavra que para mim tem um determinado significado. Até concordo consigo em alguns pontos na análise que faz, mas esses também podem ser vistos como formas originais de sentir a música. E quem arrisca ... Quanto a Solti estamos conversados ... é um dos grandes. E já agora essa mesma diferença entre o mediático e o mérito artístico é algo com o qual o próprio Barenboim está de acordo consigo e eu também: ela existe óbvio. Só não concordamos no alvo :-)

Mário R. Gonçalves disse...

Se calhar exagerei. Sou assim, tenho maus fígados...