quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Histórias curtas II- Paul Auster

de "O Caderno Vermelho" (Edições Asa)

"Um outro amigo, R., falou-me de um livro marginal que ele tentava localizar sem sucesso, esquadrinhando livrarias e catálogos à procura daquilo que devia ser uma obra admirável que ele ansiava ler; e contou-me como, uma tarde em que fazia o seu caminho pelo centro da cidade, tomou um atalho para a Grand Central Station, subiu o lanço de escadas que leva à Vanderbilt Avenue, e viu de repente uma jovem ao lado do friso de mármore com um livro à frente dela: o mesmo livro que ele tão desesperadamente tentava encontrar.

Embora não tivesse por hábito dirigir a palavra a desconhecidos, R. Estava demasiado atordoado pela coincidência para ficar calado. «Acredite ou não», disse à jovem, «tenho andado à procura desse livro por toda a parte.»

«É maravilhoso», respondeu a jovem, «acabei agora mesmo de o ler.»

«Sabe dizer-me onde poderei encontrar outro exemplar?», perguntou R. «Não consigo explicar-lhe o que isso significaria para mim.»

«Este é para si», respondeu a mulher.

«Mas é seu», replicou R.

«Era meu», disse a mulher, «mas agora já acabei de o ler. Vim aqui hoje para lho dar»."

Paul Auster

2 comentários:

Gi disse...

Gosto da simplicidade com que o extraordinário se faz credível.

Mário R. Gonçalves disse...

Gi,

Isso mesmo, parece uma historinha fácil e no entanto não há muitos capazes de contar assim.