sexta-feira, 30 de março de 2012

Igreja medieval de Trondenes, no... Ártico !

Mais uma viagenzita virtual pelos confins da nossa Europa mais articamente remota... para variar desta secura sahariana e pró-alérgica.

Bem acima do círculo polar, a Igreja de Trondenes é a igreja medieval europeia situada mais a Norte.

Fica perto da vila de Harstad, na Noruega, a 68°49N, 16°33′ E . Foi durante séculos a mais nórdica igreja em pedra de toda a Cristandade.

Obedece a um plano medieval, com o côro mais estreito que a nave, embora do mesmo comprimento. Após muita polémica, a igreja é actualmente datada do séc XIII, tendo sido construída sobre ruínas de templos cristãos vikings em madeira ("stave kirker" dos séc XI - XII), depois da unificação cristã da Noruega. Tem traços mistos do românico e do gótico, com portais em arco e paredes espessas, garantindo alguma resistência a assaltos dos vizinhos russos.
Porta principal, Porta lateral A sua maior riqueza está na decoração interior, que inclui três magníficos trípticos góticos de autores anseáticos, provavelmente de Lübeck. Tríptico da direita Detalhe do altar (tríptico central): cenas de veneração a Maria. Tem ainda um belo púlpito barroco e um órgão do séc. XVIII. O púlpito em madeira (1762, rococo ) , com um relógio de areia para controlar a duração dos sermões. A igreja encontra-se bem conservada, e o seu exterior será hoje idêntico ao original. Junto com a bela e monumental catedral de Nidaros, em Trondheim, esta igreja constitui o mais valioso legado de arquitectura medieval dos séc. XIII-XV na Noruega. Ambas testemunham também a importância económica da Noruega na baixa Idade Média, capaz de empreendimentos que envolviam bastante poder e riqueza.
Trondenes no Inverno:
Localização:

Pós vermelhos do deserto ? que seca !

Estou com sono, muito sono, quase não consigo manter os olhos abertos. Ainda agora fui ali tomar mais um café e tentar ler o jornal, mas caí de bruços em cima da página 5 com o sono, tanto sono.

Isto porquê? Há 3 dias, quando voltava de manhã a casa justamente depois da leitura matinal, tive um ataque alérgico como nunca. 20 ou 200 espirros, o nariz como uma torneira aberta. Foi preciso chegar aos 60 para uma crise destas. Sejam as poeiras do Sahara ou os pólens dos carvalhos, a verdade é que sucumbi.

Como não sou asmático, o que eu precisava mesmo era de um anti-histamínico, rápido. Milagre: hora e meia depois da Cetirizina, estava curado. E veio a sonolência.

No dia seguinte, findo o efeito, começo outra vez a pingar. Nova dose, e estou para aqui pareço um zombie. Nariz sequinho, mas cabeça tonta, tão tonta. Não consigo ouvir música nem fazer um post de jeito.

Por isso vou socorrer-me de coisas em arquivo, e nada de música, até ver. E dormir a sesta, uma longa sesta.

quarta-feira, 28 de março de 2012

The Arrival of Spring

David Hockney, 2011

Actualmente com uma excelente exposição na Royal Academy of Arts. que vai depois para o Guggenheim de Bilbao (de Maio a Setembro).

Para mim, o maior pintor vivo.

terça-feira, 27 de março de 2012

O super - Festival

Lucerna tem desde há muito o melhor dos festivais de música clássica, IMHO. Outos terão melhor programação, e sobretudo terão ópera, que em Lucerna falta; mas não há melhor sítio nem altura para assistir a todas as estrelas actuais do universo musical concertante.

Acabo de receber o programa em papel para este ano, ano de crise dizem, e eis uma amostra, longe de exaustiva:

Claudio Abbado, claro, Bernard Haitink, Mariss Jansons, Simon Rattle, Phillip Herreweghe, Valery Gergiev, Franz Welser-Möst, Pierre Boulez, Lorin Maazel, Vladimir Jurowski, Ricardo Chailly - nos directores de orquestra. Falta quem ?

Ao piano, Murray Perahia, Maurizio Pollini, Pierre-Laurent Aimard, Radu Lupu, Helène Grimaud.

Nas vozes, Anna Larson, Sara Mingardo, Bernarda Fink, Cecilia Bartoli, Anja Harteros, Elina Garanča, Jonas Kaufmann, René Pape...

Seria mais fácil fazer uma lista de ausentes.

Já na programação, não é uma ano que me atraia particularmente. Dominado pela 8ª de Mahler (de que não gosto), obras de Gubaidulina, muito Schoenberg, e algumas interpretações no mínimo estranhas - até tremo de pensar em Helène Grimaud a tocar o 1º concerto de Brahms ! Brrr.. - , terá como pontos altos Haitink com a Filarmónica de Viena ( e Perahia) e Chailly com a Gewandhouse de Lepizig.

Eu, este ano, contento-me com Londres e Veneza, em vôos e estadia baratos, e bons concertos acessíveis. Se tudo correr bem. Só tenho "pena" que a Maria João Pires, no Barbican, já esteja esgotada. E que o La Fenice ande muito por baixo em qualidade e muito por alto em preços.

quinta-feira, 22 de março de 2012

A 2ª de Mendelssohn, cantata grandiosamente esquecida


------- Série "obras menos conhecidas" --------

Mendelssohn foi mesmo um grande sinfonista, embora seja pouco cultivado como tal. E a Segunda, como mais tarde a de Mahler, é uma obra imensa, coral, com páginas belíssimas e exaltantes.

Conhecida por sinfonia-oratória Lobgesang (1840), sobre textos bíblicos, foi composta para celebrar os 400 anos da invenção da imprensa por Gutenberg, juntamente com a Festgesang Cantata (da qual foi extraído um muito conhecido hino natalício ...)

A sinfonia Lobgesang consiste em três andamentos orquestrais, seguidos de 11 andamentos para côro , solistas e orquestra.

Gravações:
- recomendo a versão de Kurt Masur, com a orquestra da Gewandhaus de Leipzig, a versão mais equilibrada, ao menos tempo contida, sóbria, mas sem poupar pathos e força interpretativa nos tutti. O Côro da Runfunk Leipzig também está muito à altura.
- John Eliot Gardiner, apesar as expectativas, é totalmente anémico, matando a obra com excesso de contenção e sobriedade, e um côro sub-dimensionado.
- Claudio Abbado faz um pastelão mole e desequilibrado que se arrasta penosamente, e há ainda uma versão aceitável de Jun Märkl com a O.S. MDR, mas demasiado pobre de efectivos, rápida e seca.
- Riccardo Chailly é grandioso, messiânico, tudo é majestoso desde a fabulosa Gewandhaus ao coro da Ópera de Leipzig. Precisa, claro, de um bom hi-fi.

Apresento outra razoável escolha, Andrew Litton dirigindo bem a Filarmónica de Bergen.

Eis o excelente adagio:



segunda-feira, 19 de março de 2012

Apoteose Grigory Sokolov na CM

Ontem foi um dos ponto altos da programação 2012 da Casa da Música. Com sala cheia, Sokolov tocou Rameau, Mozart e Brahms.

Da Suite em Re de Rameau, sei que dei por mim sem ter respirado vários minutos, por volta de Les Niais de Sologne . As mãos do mestre Grigory têm um absoluto não sei quê que faz parar o tempo biológico. Aquele piano, a tocar barroco de forma esfuziante, inebriante, só podia ser ilusão.

Da Sonata KV 310 de Mozart, sei que no Adagio a sala viajou para outra dimensão, porque eu já não tinha os pés assentes, estava suspenso num éter de gotículas mágicas de piano. Perdoe-me Maria João Pires, este foi o concerto de piano da minha vida.

A mestria nas Variações sobre um Tema de Händel, op. 24, de Brahms, foi tudo isso e muito mais, vibrante, vertiginosa, sufocante, apoteótica. Transições de velocidade, de força, de ritmo, alucinantes. Jogo de mãos alucinante. De olhos e ouvidos absolutamente bloqueados, era-me difícil acreditar no que se estava a passar naquele teclado.
Aclamação delirante.

Ficando em Brahms, o primeiro Intermezzo, op 117 nº 1, sobre uma melodia escocesa, foi belo de arrepiar. Um Sokolov pianíssimo, sublime de dolente expressividade, numa obra genial do pianismo de Brahms. Fiquei KO.
Já não aguentava muito mais, eu. Demasiadas emoções para uma noite só. E não é que faltavam duas peças? Em que mundo é que isto acontece?

O público da CM (comportamento impecável, pouca tosse) aclamou, aclamou, e... vieram os encores ? Sim. Um (Rameau) . Aplausos, aplausos... e dois (Brahms)! Aplausos... e mais... e três ! ......... quatro ! ..........cinco ! C-I-N-C-O encores ! ... e seis... e sete...

Só pode ter sido uma noite mágica. E eu estava lá, mas sem saber onde, nem quando, nem como, nem nada.

Ah, e Brahms, meu Brahms, ninguém te chega aos calcanhares . *

As Variações:

Intermezzo nº1, de Brahms:

Intermezzo nº2


Les Niais de Sologne, da Suite de Rameau

Adagio da KV 310 de Mozart:

* pronto, já sei, Mozart está lá em cima contigo, ao piano.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Le rêve, de Matisse - felicidade nunca vista

Um novo Matisse, «Le Rêve», 1940, colecção privada:

Jogo de geometrias, capacidade de evocação pela forma e pela cor

Como uma laranja, a obra de Henri Matisse é um fruto transbordante de luz.
Guillaume Apollinaire

Matisse conforta e sossega. O pintor da justa medida, da luz, da claridade e da aceitação, sem sombras de tragédia ou excessos, sem concessão ao mistério. Uma vida feliz.

Insensível às vanguardas que se agitam à sua volta, Matisse não adere a nenhuma. Nem ao fauvisme violento de Vlaminck, nem ao cubismo de Braque e de Picasso, nem ao futurisme e onirismo de Chirico...

Parece que Matisse, à porta de um mundo mais sonhador ou agitado, recusa entrar. A felicidade será o seu verdadeiro tema: janelas abertas sobre uma doce claridade, odaliscas, pombas brancas esvoaçando entre plantas verdes, estatuetas polinésias, cerâmica japonesa.

"Intérieur au rideau égyptien": a felicidade segundo Matisse.

En 1930, Matisse iria surpreender com um novo método e uma nova linguagem: em vez de pintar, usava folhas de papel colorido e, com tesoura, cortava nelas a seu grado formas prodigiosas que depois colava. Método que atingiu o melhor nos famosos Nus Azuis de 1952:


Nu Bleu

Enquanto a pintura engagée só oferece mensagens sinistras, Matisse ainda nos emociona e comove. É uma festa em período de crise.

Próxima do «Rêve», «A blusa Romena», 1940: um artista à procura de uma linguagem própria.

«Matisse, paires et séries», Centre Pompidou, de 7 de Março a 18 de Junho

Fontes:

Le Figaro aqui e aqui
Centre Pompidou

segunda-feira, 12 de março de 2012

R136 30 Doradus, baby-boom estelar

Ampliar para melhor qualidade

Nova imagem do Hubble. R136 é um agrupamento maciço de jovens estrelas, na Nebulosa 30 Doradus, uma região turbulenta da Nuvem de Magalhães que é um monstruoso infantário estelar.

Muitas das estrelas com aspecto de diamante azul estão entre as mais maciças estrelas conhecidas, 100 vezes mais pesadas que o Sol. O seu destino é um grande estouro, um fogo de artifício em cadeia, formando supernovas dentro de um milhão de anos.

As mais brilhantes cavam um fosso no material circundante, à força de luz ultravioleta e rajadas de vento estelar (partículas carregadas electricamente).

Estas forças imensas desenham cavidades, bolhas, faixas, colunas, em choques sucessivos que vão dar origem a ondas de novas estrelas.

Cá em baixo, sofremos com a crise da dívida.

NASA, ESA

sábado, 10 de março de 2012

A Fleming cantando à Lua

Não é invulgar que um músico tenha uma fixação numa obra, e se torne especialista quase exclusivo nela. Como Gilbert Kaplan com a 2ª de Mahler, Gould nas Goldberg, Colin Davis em Berlioz, Tom Koopman em Bach...

Não será um caso tão extremo, mas o que Renée Fleming melhor cantou e como ninguém, várias vezes, foi a Canção à Lua da Rusalka.

E vale a pena ouvi-la mais que uma vez, e acompanhar a evolução da voz, descontando a qualidade variável do som gravado. Voz de ouro, voz de seda, ei-la no seu melhor. Passatempo de fim-de-semana :)

Na Gala Tucker, 1991


Em Tóquio, 2001


Numa récita da Rusalka, Paris, 2002


Em Praga, 2002


A encerrar os Proms, em 2010


E ainda há Atenas 2009 ...

A minha perferida? Entre Tóquio e Praga, talvez Paris...


Trad. inglesa:

Silver moon upon the deep dark sky,
Through the vast night pierce your rays.
This sleeping world you wonder by,
Smiling on men's homes and ways.
Oh moon ere past you glide, tell me,
Tell me, oh where does my loved one bide?
Tell him, oh tell him, my silver moon,
Mine are the arms that shall hold him,
That between waking and sleeping
Think of the love that enfolds him.
May between waking and sleeping
Think of the love that enfolds him.
Light his path far away, light his path,
Tell him, oh tell him who does for him stay!
Human soul, should it dream of me,
Let my memory wakened be.
Moon, oh moon, oh do not wane, do not wane,
Moon, oh moon, do not wane...

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sexta-feira, 9 de março de 2012

Camélias no Porto

A XVII festa das Camélias na Biblioteca, envolta nos jardins do Palácio, neste fim de semana 10 e 11.

Flores de Inverno num Verão antecipado a mais de 23ºC ! A nossa estrela-mãe também não sente a crise, tal como os BRICS, está pujante de força. O anti-ciclone não ajuda e empurra a chuva para longe. Vejamos flores, então.

quinta-feira, 8 de março de 2012

O Mahler tão diferente de Iván Fischer

Que diferente soa ! Uma atenção infinita ao detalhe, uma valorização dos sopros como nunca antes, a enfatização extrema do crescendo/decrescendo frequente em Mahler. Estes dois andamentos são do mais sublime que já ouvi.

Mahler, Sinfonia nº4
3º e 4º andamentos
aos 27:55
Ivan Fischer, Orq. Concertgebouw

segunda-feira, 5 de março de 2012

Magnetic Fields - peccatus meus

Confesso, eis uma das minhas fraquezas ! Gosto destes tipos... os Magnetic Fields são uma banda de culto de Nova Iorque , de estética bastante "retro" - cultivam o gosto pela melodia simples que entra no ouvido, vozes roucas ou mesmo desafinadas, instrumentos pobres - banjo, acordeão, ukelele... as letras são em geral histórias de amor tragi-cómicas, deprimidas mas irónicas, mas bem inventadas e trabalhadas.

O produto final, acho eu, é de uma beleza primordial. Não há aqui grande produção nem grande técnica. Não vende. Mas diz-nos qualquer coisa de pessoal e poético que nos mexe, como o antigo Leonard Cohen mexia. Embalamos naquelas "musiquinhas" quase de circo, quase de cabaret, e ficamos pendurados nas palavras bonitas e tristes, ou ridículas e bonitas.

Os Magnetic Fields são meio underground, têm um pequeno nicho de fans absolutos e "corporativos" - vão de terra em terra atrás deles, assistir a concertos sempre dados em pequenas salas mais ou menos íntimas - têm horror aos estádios e pavilhões.

Vêm à Casa da Música a 1 de Maio, e apesar de trazerem sintetizadores :( voltarão certamente a visitar os clássicos.

Asleep & Dreaming


Two kinds of people


Seduced and abandonned


Peço desculpa por este post atípico, vou já rezar 3 ave-marias e 10 pai-nossos para lavar o pecado :D

domingo, 4 de março de 2012

Nyman para um domingo chuvoso (?)

Talvez a melhor obra de Michael Nyman, este concerto para saxofone e orquestra na forma de um longo andamento (17:48) tem momentos de grande música, trabalhada com emoção e invenção.

Sabe bem ouvir coisas novas e bem feitas. Nem tudo é tempo perdido. E, com a chuvinha bem-vinda, há esperança.

Michael Nyman, Where The Bee Dances
John Harle, Bornemouth orchestra