domingo, 17 de julho de 2016

Aquae Sulis: quando Roma foi a banhos em Bath.


Os Romanos permaneceram na Britannia durante mais de três séculos. É muito tempo, sobretudo medido em tempo-UE (União Europeia), que ainda só vai fazer 60 anitos. Três séculos vão desde J. S. Bach até hoje, dez gerações. Nunca mais Inglaterra estaria tanto tempo submetida e integrada no espaço europeu, ah ah.

A cidade de Bath é depois de Londres a mais visitada de Inglaterra. Tive essa experiência à chegada num sábado, com uma multidão copiosa no centro histórico à volta dos Banhos Romanos. De início assustou-me, mas logo vim a perceber que o fenómeno é como as marés, cresce e recua até deixar a cidade deserta pelas 6 da tarde, e mais ainda se for 2ª ou 3ª feira. Pude assim dispôr de tranquilidade e passear por Bath sem encontrões.

Vou começar por descrever esses Banhos Romanos tão concorridos. Proximamente, dedicarei outro post à casa-museu do astrónomo e músico Herschel, que aqui passou parte importante da sua vida.

Aquae Sulis

The Large Roman Bath

Os Romanos da época de Nero devem ter ficado em êxtase quando encontraram uma grande fonte de águas ferrosas quentes no vale do rio Avon, no sudoeste de Inglaterra, por volta do ano 60 da nossa era. A fonte já era objecto de culto dos celtas bretões à deusa Sulis; os romanos identificaram-na com a sua Minerva para cultivar boa vizinhança, baptizando-a Sulis Minerva. Tanto foi o entusiasmo que logo construíram um grande complexo termal para seu conforto e consolo durante cerca de 200 anos; primeiro sob Vespasiano, depois com Trajano e Adriano, banhos e templos foram enriquecidos e alargados, Bath tornou-se um importante centro termal e religioso, para além da estratégica fortificação militar.
Imaginei durante a visita o que seria trazer um centurião romano à nossa casa, com chuveiro de água quente disponível a toda a hora. Devia cair de joelhos em adoração, ou desmaiar de felicidade.

O declínio dos banhos chegaria a partir do século III, e em 410 os Romanos retiraram-se da Britannia, enquanto chegava a Idade das Trevas pós-romana. Só mais adentro da Idade Média Bath renasceria como cidade mercantil.

A estatuária é victoriana, mas não 'estraga'.


A decoberta dos banhos é recente; durante obras nas Termas Victorianas, em 1878, foram encontradas a fonte, o reservatório e a piscina romana. A abertura ao público foi em 1897. Foram construídas na altura estruturas superiores e exteriores, como os crescentes de colunatas à entrada e o pátio superior decorado com estátuas de imperadores romanos, de 1894. Mas no piso inferior foi 'quase' tudo mantido tal como encontrado.


A visita a partir das 21h contava com iluminação de archotes, que me pareceu uma mais-valia, tendo em conta também que as filas já tinham debandado e havia meia dúzia de visitantes.

Fragmentos da frontaria do Templo a Sulis Minerva, que deve ter sido de grande imponência - 15 metros de altura. A grande cabeça de Gorgon, no centro, servia para dar protecção ao templo.

Baixo-relevo de caçador com cão e coelho.

Cabeça de senhora abastada. Este arranjo de cabelo era moda em Roma por volta do séc. I.

Pavimento de mosaico, séc. III-IV.

Sobraram poucos mosaicos, e não são os de Conímbriga; mas estes animais marinhos são bem bonitos.

Luna, que no pátio do Templo fazia frente ao Sol na parede oposta.

A peça mais extraordinária do Museu é provavelmente a cabeça em bronze dourado de Sulis Minerva. Quando nos surge pela frente é um deslumbramento.

Foi descoberta antes dos Banhos, em 1727, num esgoto sob uma rua de Bath.

Seis camadas de folha de ouro cobriam a base em bronze.


E chegamos à piscina grande dos banhos:


A entrada das águas sagradas para a piscina, tal como era, informa o Museu.




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À saída, a catedral gótica estabelece mais um contraste histórico e arquitectónico. A riqueza das cidades, é isto.



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 A seguir: Herschel, astrónomo e músico em Bath.

1 comentário:

Virginia disse...



Gostei do texto com sentido de humor....o Mário é um óptimo narrador, podia fazer alguns programas para a RTP que são chatos como a medula....
Nunca fui a Bath e sempre lá quiz ir. Bath e Chester, duas cidades romanas que não conheço...

Continue....as catedrais são o meu sonho...não sou tão keen on arqueologia :)