domingo, 13 de setembro de 2009

A Passagem do Nordeste - uma epopeia nórdica (II)


A descoberta da Rota do Mar do Norte é uma das mais notáveis páginas da História da Rússia  

Nos anos 1930, o poder soviético estava impaciente com os atrasos que impediam a Passagem do Nordeste de ser a prometida rota regular de carga e passageiros.

O geofísico e veterano do ártico Otto Schmidt foi nomeado director do projecto da Rota do Mar do Norte, de Murmansk até Vladivostok, e em 1932, o quebra-gelos Sibiriakov, sob comando do capitão Vladimir Voronin , estava pronto para uma travessia da Passagem.

Embora o barco tenha sofrido sucessivas avarias, a viagem teve êxito: em apenas (!) 65 dias, o Sibiriakov foi de Arkhangelsk até ao Oceano Pacífico, sendo o primeiro navio de sempre a conseguir cumprir a rota da passagem do Nordeste numa só temporada, sem se abrigar num porto de Inverno.
Mas o Sibiriakov era um quebra-gelos, não um normal cargueiro. Para estabelecer a Rota, era preciso melhor.

O Chelyuskin, lançado em 1933

Entusiasmado com o sucesso, Schmidt preparou então outro navio, o Chelyuskin, construído na Dinamarca em 1933, e com um poderoso motor de 2 500 cavalos, estrutura reforçada, e chapas de aço extra à proa. Tudo à boa maneira soviética. Confiante de que o navio abriria facilmente caminho através do gelo do Ártico, fazendo uma viagem directa até ao estreito de Bering, Schmidt procedeu ao carregamento e embarque em 2 de Agosto de 1933; com 100 passageiros (incluindo cientistas) e uma pesada carga, o navio deixou Murmansk e navegou facilmente pela Rota até ser apanhado pelos campos de gelo em Setembro. Pelo caminho, os geógrafos foram mapeando a costa, os técnicos instalando estações de rádio (como dantes nós "plantávamos" padrões...)

A rota do Chelyuskin 1933-34

Por alturas do Cabo Chelyuskin, o Capitão Voronin deu conta de que o barco não estava à altura das expectativas, e as condições de navegação pioravam rapidamente. A meio de Setembro, o Chelyuskin ia progredindo penosamente, procurando estreitas linhas de água, virando e oscilando com as camadas de gelo, apontando sempre a Leste.

Chegado ao mar da Sibéria Oriental, a 200 milhas do estreito de Bering , subitamente estacou sem se poder mexer mais, bloqueado por todos os lados na sólida camada de gelo, a poderosa maquinaria completamente impotente.

Por rádio, o capitão soube que havia mar aberto 12 milhas adiante. Depois de semanas à deriva para Norte e Noroeste, Schmidt teve de concluir que estava prisioneiro da placa do gelo polar. Nunca conseguiria libertar-se. Com 5 membros da tripulação, começou a preparar o abandono do navio.

O fim chegou em 13 de Fevereiro de 1934, quando uma montanha de gelo abriu um buraco de 40 pés no lado do navio, inundando as máquinas e caldeiras com água gelada. O barco levantou-se, por momentos ficou quase de pé na vertical, expeliu uma enorme nuvem de fumo e afundou - desapareceu numa água suja em remoinho. Aos gritos de "Todos para o gelo! Abandonem o navio!", o último homem saltara minutos antes...

O naufrágio do Chelyuskin com a tripulação a fugir para o gelo.

A tripulação e os passageiros concordaram em construir o que chamaram “camp Schmidt”, um acampamento nos flocos de gelo, isolados da terra firme. Não tinham rádio nem havia aviões por perto. A temperatura rondava -30º/-40º. Estava fora de causa o socorro em trenós. A própria aviação estava nos primórdios... Mesmo assim, um mês depois, em 13 de Abril, 92 homens, 10 mulheres e 2 crianças tinham sido finalmente transportadas por via aérea para local seguro - nem uma vida se perdeu. Os próprios "Chelyuskins" tinham à força de braços arranjado umas "pistas" para os aviões aterrarem no gelo !


Camp Schmidt

A resistência da equipa do Chelyuskin no acampamento e o seu resgate pelos pilotos pioneiros é reconhecido com um feito heróico dos exploradores russos do ártico. Os pilotos fizeram 24 voos para conseguir salvar toda a gente, e receberam o título honorífico de Heróis da União Soviética. O resgate da expedição do Chelyuskin tornou-se um marco na história da Rússia. Na altura, a aventura correu mundo e fez as primeiras páginas dos jornais.

Um dos Polykarpov P-5s equipados com skis que tiveram um papel chave no resgate da tripulação do Chelyuskin.

Os restos do navio foram descobertos em Setembro de 2006 à profundidade de 50 metros no mar de Choukchi, a 68º 16´ N , 173º 51´W.

- A Rota do Mar do Norte foi oficialmente declarada aberta , e a exploração comercial começou em 1935. -

É parte integral da economia da região, é vital para o extremo Norte e Oriente da costa russa, onde garante o fornecimento de combustíveis, alimentação e outras mercadorias essenciais, e recolhe recursos naturais para o continente.

A dissolução da União Soviética, seguida da crise económica e social do espaço pós-soviético nos anos 1900, teve um impacto negativo nas condições da Rota, com a ruína de portos e da frota marítima. Fazem-se agora esforços para retomar o seu desenvolvimento .

Liapidevsky, o primeiro piloto a chegar a Camp Schmidt.

Fontes:
http://en.wikipedia.org/wiki/SS_Chelyuskin
http://goto.glocalnet.net/sm5iq/raemeng.html http://warandgame.wordpress.com/2008/05/
http://modelshipworld.com/phpBB2/viewtopic.php?printertopic=1&t=7273&postdays=0&postorder=asc&&start=170 http://en.wikipedia.org/wiki/Adolf_Erik_Nordenski%C3%B6ld
http://www.j1.se/index.php?option=com_content&view=article&id=193&catid=193&lang=en
De novo, obrigado Lastochka! - http://lastochka-fromrussiawithlove.blogspot.com/

4 comentários:

Gi disse...

Excelentes posts, tornando muito interessantes os acontecimentos que descreve. Obrigada, Mário.

Mário R. Gonçalves disse...

Deu trabalho, mas com gosto :)

Paulo disse...

Obrigado por esta História, Mário.

Mário R. Gonçalves disse...

Disponha! :)