sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

2010 / 2011

Não sei como encerrar ... talvez com o mar, eterno retorno, o mar da madrugada, vento leste, sol nascente, dourando as cristas que o sopro levanta...


Homme libre, toujours tu chériras la mer!
La mer est ton miroir; tu contemples ton âme
Dans le déroulement infini de sa lame,
Et ton esprit n'est pas un gouffre moins amer.


Charles Baudelaire



Que 2011 traga novos mares de descoberta mas também de embalo e bonança para todos vós.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Oymyakon, o Pólo do Frio




350 quilómetros ao sul do Círculo Ártico, a 63°15′N , 143°9′E, Oymyakon é a povoação que registou a mais baixa temperatura em todo o planeta, em Janeiro de 1926 :

Evereste min
- 41ºC
Oymyakon min
- 71,2 ºC


A Yakutia , região da Sibéria, é considerada a zona mais fria do hemisfério Norte. Ficou tristemente conhecida como "Anel de Morte de Estaline", por ser um dos destinos de exílio dos condenados pelo regime.


Para se ter uma ideia das resistências ao frio que a população desenvolveu, basta registar que a solitária escola de Oymyakin só fecha quando a temperatura desce abaixo de -52º C ! Os residentes consideram normal no Inverno uma temperatura à volta de -45ºC (= à média); habitualmente deixam os veículos sempre a trabalhar todo o dia, e avisam os visitantes contra o perigo de usar óculos fora de casa, porque congelam colados ao rosto !...

A única estrada, de Tomtor a Oymyakon, leva umas 2 horas para percorrer 50 km, ou então, se as coisas correm mal...

Oymyakon é uma aldeia de casinhas de madeira, aquecidas ainda a carvão ou lenha; moram lá umas
1200 pessoas, num vale entre duas cadeias montanhosas ( essa é a explicação para as baixas temperaturas: o ar frio que fica encurralado entre as montanhas). O nome "Oymyakon" significa, curiosamente, "água não gelada" , devido a uma nascente natural de águas quentes perto da aldeia.




A maioria dos habitantes tem poucos recursos: rebanhos de renas para a carne, caça e pesca ( por furos no gelo). A criação de cavalos é também uma actividade tradicional, que fornece um pequeno rendimento suplementar:


O Cavalo do Yakut , ou simplesmente o Yakut, é uma espécie nativa rara, procurada pela sua adaptação ao frio extremo - é capaz de localizar e pastar a vegetação que está sob a camada de neve.



Recordes de frio
Vostok, Antártida: -89.2ºC (base científica)
Oymyakon, Rússia: -71.2ºC
Verkhoyansk, Rússia: -67.7ºC
Snag, Yukon, Canadá: -63ºC
Prospect Creek, Alasca, EU: -62.1ºC

O monumento ao "local habitado mais frio da Terra" :


http://news.bbc.co.uk/2/hi/8445831.stm

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

If I´m lucky

Uma requintada prenda de Natal:

Sophisticated Ladies (2010),
Charlie Haden quartet West, com
Cassandra Wilson, Diana Krall, Norah Jones, Renée Fleming...


If I'm lucky, you will tell me that you care,
That we'll never be apart
If I'm lucky, this will be no light affair,
It's forever, from the start

If I am lucky, there will be a time an' place
You will kiss me, we'll embrace
In that moment, every wishful dream I ever knew
Will come true

Eddie Delange and Joseph Myrow

domingo, 19 de dezembro de 2010

Paul Hillier e o Coro

Muito belo concerto de Natal na Casa da Música.


Diferente, fugindo à rotina da época, centrou-se em dois compositores pouco habituais nestas celebrações - Monteverdi e Mozart - para uma viagem de descoberta coral.

De Monteverdi, excertos da sua obra derradeira, o volume de música sacra Selva Morale e Spirituale de 1640. Saliento o "Christe Redemptor omnio" e o "Confitebor III", de bela arquitectura e com momentos intensos de canto, incluindo um momento solista para soprano (acompanhada no órgão e cravo) invulgar e de difícil mas conseguida execução, pela voz de Eva Braga Simões.

De Mozart, duas obras corais também excelentemente executadas: o Sancta Maria mater Dei KV 273, esfuziante de alegria e grande impacto, muito mozartiana de melodias e orquestração, um dos pontos altos da noite; e o incontornável (este sim) Ave Verum Corpus, a perfeição absoluta e eterna em 3 minutos, executado impecavelmente com um Coro Casa da Música em estado de graça. Acho que houve um momento de respiração sustida na sala quando acabou, seguido de grande ovação.

Parabéns Paul Hillier, parabéns Coro Casa da Música.

(menos bem esteve a orquestra, inexpressiva e insegura, e as obras de Buxtehude e Corelli, maçadoras).

Mozart, Sancta Maria mater Dei KV 273


Monteverdi, Confitebor tibi 3

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Epílogo na Casa da Música, 2010

Domingo termino a temporada com o concerto de Natal da Casa da Música -Paul Hillier dirige obras corais de Monteverdi, Buxtehude, Corelli, e termina com o sublime Ave Verum Corpus de Mozart. Casa totalmente cheia, parece.


Um ano de programação pouco mais que mediocre, salva pelos momentos altos que foram o Mahler de König (fabulosa 2ª), o Bach de András Schiff, o violino de Midori e, claro, o Beethoven de Maria João Pires.

András Schiff e as Goldberg, aqui.

Natal no Ártico


Postal típico da quadra nas altas latitudes - as auroras boreais. Noites mágicas, em que é a própria natureza a encarregar-se dos festejos.

Aqui, no Alasca, durante a longa noite invernal, iluminando o caminho para algum viajante dos céus.

Alaska Stock

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

The lady from Baltimore

Saudades desta música de Tim Hardin,

I was there to steel her money
Take her rings and run
then I fell in love with the lady
got away with none




quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Exposição a não perder

"Bancos" são instituições que não me merecem grande simpatia, abençoado seja o dia em que não sejam mais precisos, ou seja, o dia em que o dinheiro deixar de existir.

Entretanto, vão alegremente coleccionando riqueza sob várias formas, a maior parte desinteressantes, mas alguma parte em obras de arte, com maior ou menor gosto. Bancos ainda por cima ligados à Opus Dei como este de que hoje falo são particularmente "experts" no investimento em Arte, com a argúcia de quem sabe escolher o melhor.

Está na Fundação Cupertino de Miranda, no Porto, uma exposição de parte do espólio de arte portuguesa do Millenium BCP. É um regalo: Silva Porto, Malhoa, Eduardo Viana, Amadeo de Sousa-Cardoso, Dórdio Gomes, Almada Negreiros, Vieira da Silva, Júlio Resende, Nadir Afonso, Cargaleiro, Júlio Pomar, Noronha da Costa e muitos outros de que gosto pouco {até Paula Rego! :( ] . Pintura portuguesa dos séc XIX - XX, começando na corrente naturalista. Uma visão panorâmica (embora não cronológica...) dos caminhos da pintura nos útimos anos.

Um só exemplar de cada, mas que bem escolhido! Sabem muito! Vale a pena ir e voltar.

Eduardo Viana - Cabeças de Mulher

Júlio Pomar - Tigre (detalhe) - um espanto!

Chamam à exposição "Arte partilhada". Não me importava nada de partilhar esta colecção.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Bruch

O tom continua : melancolia invernal.


Bruch, adagio do concerto para violino.
Janine Jansen nos Proms 2008, dir. Mark Elder

domingo, 5 de dezembro de 2010

Ravel

Há dias assim, quando chove por toda a parte, dentro e fora de nós.

Helene Grimaud - Ravel, Concerto em Sol Maior

II. Adagio assai
,

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Nova vida, vida nova

A revelação da NASA é estrondosa, nem se pode imaginar até que ponto. Todo o barulho à volta de extraterrestres foi armadilha para/de jornalistas, jogando com a palavra "alien". A realidade ultrapassou a ficção.

Não significa apenas que pode haver outros seres vivos diferentes, como homens de 3 olhos ou aranhas inteligentes... significa radicalmente "outra vida", baseada numa génese, numa química e numa estrutura diferentes. E descobri-la aqui na Terra é espantoso, sabe-se lá se estamos a ser assistentes do surgimento de novas formas de vida "paralelas", árvores de vida cuja história futura será diferente da nossa.

É estonteantemente fantástico, este ano de 2010 já vai ficar na História ! E viva o arsénico.

Comentários variados aqui.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

De regresso do "berço"



Soube bem a estada em Guimarães, apesar do frio intenso.Um dos pontos altos foi a visita ao Museu Arqueológico Martins Sarmento.


Para além de um belo claustro gótico onde grande parte do espólio em pedra está exposto, pude enfim ver o famoso carro votivo castrejo em bronze, do 1º milénio A.C. (há quem estime à volta de 250 A.C.), único na Europa. Dedicado a um deus guerreiro, foi encontrado perto da citânia de Sanfins.


Aparentemente, reflecte uma organização hierárquica da sociedade castreja, tripartida à maneira indo-europeia, em torno das ideias da soberania, força e fecundidade.


Obra de arte incomparável de uma civilização celta no Norte de Portugal - há cada vez mais indícios de que a zona Galaica da península foi um dos locais onde a civilização celta atingiu um nível maior de desenvolvimento, como já reconhecera o historiador grego Estrabão - este objecto demonstra uma habilidade requintada no trabalho do bronze.
Ver mais aqui.

Ao fim da tarde , a cidade iluminada, outro ambiente. Bom para compras.




sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Pausa em Guimarães


Uns dias sem publicar, é quase certo. Mini-estada em Guimarães para sair de casa, mudar de ares , encontrar amigos. Espreitar o concerto de Neil Hannon, um songwriter diferente. Rever o centro histórico recuperado, fazer compras de Natal...


Bom fim-de-semana (parece que vai estar , só depois volta).

domingo, 21 de novembro de 2010

Destaques Casa da Música para 2011


12 FEVEREIRO
OSP, Joseph Swensen
Gustav Mahler, Sinfonia nº 4

Porquê: A OSP anda a tocar bem Mahler (até foi aplaudida em Viena); a 4ª é a mais feliz das sinfonias, com uma ária imperdível, e Swensen é bom director (já o ouvi).

26 MARÇO
BRAD MEHLDAU E ANNE SOFIE VON OTTER

ciclo de canções "Love Songs". Para além das canções de Mehldau, o duo tem interpretado peças de autores como Jacques Brel, Léo Ferré, Michel Legrand, Paul McCartney e Joni Mitchell.

Porquê: pianista e soprano de alto nível a cantar canções "ligeiras", talvez um dos pontos altos da programação, a esgotar rapidamente.


16 ABRIL 2011
Brahms, UM REQUIEM ALEMÃO
OSP,CORO CASA DA MÚSICA
Christoph König

Porquê: Uma das melhores obras de Brahms e de todo o romantismo. Empolgante, coros belíssimos. Não se ouve muitas vezes...e König garante a direcção.

20 MAIO
VARIAÇÕES AMERICANAS
OSP, Alexander Shelley
Peter Jablonski piano

Aaron Copland - Appalachian Spring
George Gershwin - Concerto para piano e orquestra; Variações de I Got Rhythm
John Adams - City Noir

Porquê: este ano é o tema da Casa, a música americana. O concerto de Gershwin é festivo e contagiante, a obra de Copland muito bonita e nunca a ouvi ao vivo. "City Noir" do Adams não conheço, mas é um risco interessante.

17 JUNHO
OSP,Christoph König
Mahler, Sinfonia nº 5

Porque sim!

29 OUTUBRO
OSP, vários COROS
Christoph König
Mahler, sinfonia nº 8

1º) A Casa vem abaixo, 2º) nunca ouvi ao vivo!

5 NOVEMBRO
SONATORI DE LA GIOIOSA MARCA
Giuliano Carmignola, violino e direcção

Henry Purcell - Abertura Z772; Pavana Z752; ChacconaZ730; Fantasia Z731; Suite Z770.
Antonio Vivaldi - Concertos L'amoroso RV271, Il Sospetto RV199, L'inquietudine RV234 e Il piacere RV180.

Porquê: para quem gosta de musica barroca, deve ser uma festa. Os intérpretes são do melhor que há, muito alegres (gioiosi), tocam de pé...

11 NOVEMBRO
FREIBURGER BAROCKORCHESTER
Bach, suites orquestrais

Porquê: Bach, excelência da orquestra.

21 DEZEMBRO
REMIX ENSEMBLE, Peter Rundel
ORQUESTRA BARROCA CASA DA MÚSICA, Andrew Parrott

J.S. Bach
Concerto Brandenburguês nº 3, BWV 1048;
Cantata nº 82 "Ich habe genung"

Porquê: por Parrott, que dá garantias, pela ária "Schlummert Ein", uma das mais belas de Bach.

23 ABRIL

PATRICIA BARBER

do programa:

"lugar de destaque entre as vozes do jazz actual. Revelou-se uma pioneira logo no seu primeiro álbum, em 1992, ao gravar uma canção pop contemporânea quando mais ninguém o fazia no jazz. A originalidade de Barber encontra-se não só na voz escura de contralto e no carácter introspectivo que imprime às suas interpretações, mas muito especialmente na sua veia enquanto compositora de canções, onde aposta no risco e inovação. O programa do concerto que traz à Casa da Música inclui algumas das canções de Cole Porter que deram forma ao seu álbum The Cole Porter Mix, em 2008."

Tenho vários discos dela, de que gosto muito.

sábado, 20 de novembro de 2010

Amazónica fornada ( e não só)

Chegaram as encomendas de Novembro:


CD1
Stabat Mater de Rossini, dir. Pappano

Esplendorosa sonoridade, Pappano e o coro convencem; magnífico Quis est Homo, e Joyce DiDonato....

CD 2

Domenico Zipoli , Musica Sacra de las Missiones (já "postei" aqui)

CD3
David Fray - Concertos para piano de Bach, c/ orq. câmara Bremen
O prazer de redescoberta, em pura alegria e meticulosa atenção ao detalhe, de uma obra escrita para cravo. Dei notícia e trailer aqui.

DVD1
Contos de Hoffman, Powells e Pressburger


Clássico em deslumbrante Tecnihcolor

DVD2
Bright Star / Estrela Cintilante , de Jane Campion


Filme a ver repetidamente.

Livros

O Livro dos Saberes, Constantin von Barlowen

Testemunhos de sabedoria variada, muito para pensar.


Contos da sétima esfera, Mário de Carvalho


Para leitura de cabeceira.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

David Daniels - Schlummert ein

Ora aqui está algo que Andreas Scholl nunca conseguiria!

Enquanto Scholl está cada vez mais mortiço e inexpressivo, Daniels tem um domínio de voz e riqueza tímbrica cada vez mais impressionantes e vibrantes de vitalidade.


David Daniels - Bach: "Schlummert ein"

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

faleceu Górecki (1933 - 2010)

Henryk Gorecki, nascido em Czernica, na Silésia, Polónia, em 1933, foi um dos grandes compositores da segunda metade do séc XX. O seu trabalho notável com a London Sinfonietta e o Kronos Quartet, depois da sua demissão de professor de música em Katowice por oposição ao regime, ficará como o seu melhor legado.

Tendo começado ao estilo modernista comum na época, na linha de Bartók e Webern, adoptou mais tarde uma linguagem mais minimalista e ao mesmo tempo contemplativa e mística, numa linha próxima de Arvo Part.

Depois da famosa e muito ouvida Sinfonia nº 3, deixa uma 4ª sinfonia acabada mas ainda não estreada.

Henryk Mikołaj Górecki
Nº. 1 de "Três peças ao estilo antigo"


terça-feira, 9 de novembro de 2010

Vilarinho Seco

Quando recentemente atravessava a serra de Alturas do Barroso deparei-me, quase ao fim do planalto, com a surpreendente aldeia de Vilarinho Seco.

Boca aberta de espanto, julguei estar num cenário de filme. E de facto andavam por lá uns holandeses (quem mais?) a filmar. Já à entrada umas casa com tecto de colmo e umas senhoras idosas trajadas a preto, chapéu incluído, compunham um quadro de décadas atrás.

Mais adiante, o centro: um largo com o tanque do gado, o cruzeiro, a capela, uma passagem sob arco, um relógio de sol, pináculos, escadarias, alfaias...

Junto ao curso de água, espigueiros e um belo moínho de água.

O chamado Moinho do Porto é um dos mais curiosos da região: de forma elegante, rematado pela pequena escadaria que lhe serve de acesso.

Provavelmente uma das nossas mais belas e fascinantes aldeias históricas.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Bela ISS


À sua maneira bela, sim. Foi composta, como uma sinfonia, tem texturas e dinâmicas, como um quadro, e habitam-na várias personagens, como num romance. Baila no espaço, como no 2001 de Kubrik, e é obra eternamente inacabada, como arte moderna que se preze.


Pode não ser muito útil - é arte, pois. Pode ter sido caríssima - como a Casa da Música...

Mas é arte acima de tudo porque é orgulho do Homem e me dá imenso prazer que exista, testemunho mais avançado da civilização, como um farol, a dizer - vejam só onde já chegamos, nós, as formiguinhas lá de baixo.

Fez 10 anos, tem mais outros tantos pela frente. Parabéns. Para bem.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

um post feio

ainda sobre fealdade humana:


Todas as manhãs de semana, não chovendo, vou ao jornal na tabacaria do bairro. Pelo caminho passo na esquina da Associação Recreativa, onde invariavelmente estão 3 ou 4 homens na rua a fumar, um ou outro poderá ter uma superbock na mão, a outra mão no bolso.

Todos os dias os fragmentos de conversa que ouço são variantes da mesma frase, com 95% de "puta que pariu", "caralho", "merda" e "foder".
Exemplo típico: "Puta que pariu aquela merda, se fosse eu ia lá e fodia aqueles caralhos todos!".

Devo dizer que se pode encontrar alguma poesia nestas frases, abundantes em metáforas, em criativos paradoxos e, digamos, com uma rítmica muito própria.

Imaginemos por momentos que se tratava de ir a PyongYang depor a ditadura do Supremo Líder Kim Jong-il ; a frase torna-se automaticamente simpática!

Mas não: trata-se sempre de futebol (lá se vai a poesia toda).

Eu sei que há muita fealdade entre ricos e poderosos, corruptos e tiranos, aristocratas e bem-falantes: esses estão lá longe, não fazem parte do meu mundo, posso até ignorá-los, não passo por eles à esquina todos os dias.

Mas este grupo, feio, feio, (sem culpa, vítima, mas feio), cria em mim uma misantropia tão forte que me apetece ir a correr abraçar a primeira árvore.

domingo, 31 de outubro de 2010

verão indiano no Parque


Porto, parque da cidade, últimas semanas de Setembro: os plátanos, mas não só - choupos, tílias, salgueiros, nogueiras - o parque ganha com o passar dos anos, e as árvores, silenciosas mas boas companheiras, dão tudo sem nada pedir em troca. E entre elas, na sua sombra ou no seu abraço, na sua paz e no sussurrar das folhas, nas mil e uma cores que reflectem o sol, descansamos da fealdade dos homens.






Outono I

These are the days when Birds come back --
A very few -- a Bird or two --
To take a backward look.


Emily Dickinson

Outono II

In youth, it was a way I had
To do my best to please,
And change, with every passing lad,
To suit his theories.

But now I know the things I know,
And do the things I do;
And if you do not like me so,
To hell, my love, with you!


Indian Summer, Dorothy Parker

Outono III

Laden Autumn here I stand
Worn of heart, and weak of hand:
Nought but rest seems good to me,
Speak the word that sets me free.


William Morris

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Ainda a propósito da Islândia - Thingvellir

Só há um local onde a falha tectónica que atravessa o Atlántico é visível à superfície: Thingvellir , um enorme desfiladeiro na Islândia, entre a placa tectónica da Eurásia e a da América do Norte.

A dorsal meso-atlântica é divergente, ou seja, as duas placas afastam-se e no futuro a ilha será partida em duas com o Atlântico no meio!
Os dois continentes separam-se à velocidade de 2 m por século, de forma que a terra entre as placas se afunda aos poucos, cavando uma fenda ou vale em desfiladeiro:



Um dos mais belos locais da Islândia, o Parque Nacional de Thingvelliré também um marco na História do país e até...da Europa! Foi aí que se reuniu o primeiro Parlamento do mundo: os Vikings juntavam-se aqui anualmente desde o séc X, à volta de uma elevada formação rochosa, para criar leis novas e reformar as antigas.


O Alþingi ou Althing foi fundado cerca de 930 DC, e tinha lugar cada verão. Mais tarde funcionou também como tribunal até 1798. Mesmo depois da anexação da ilha pela Noruega, o Althing manteve sessões em Thingvellir até 1799. Acontecimentos cruciais da história da Islândia aì tiveram lugar - a adesão ao cristianismo em 1000 DC, a fundação da república da Islãndia em 1944.

O Rochedo da Lei de Þingvellir (séc XIX).

Desde 2004 o parque de Thingvellir pertence à lista do património mundial da UNESCO.

O Parque Nacional de Þingvellir

O seu território inclui a falha geológica, o local e os achados do Althing, cujo sítio arqueológico continua sob investigação. Inclui ainda o Lago Þingvallavatn, entidade única quanto à história geológica e ao ecossistema, e a queda de água Öxarárfoss do rio Öxarár , que alimenta o referido lago.

Lago Þingvallavatn


Igreja antiga onde o rio Öxarár desagua no lago.

A queda Öxarárfoss