quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Iliteracia, rapazes e raparigas, uma socióloga e o "Público"

Um bom exemplo de "estudo social" à moda nos nossos dias: em entrevista ao "Público" do dia 27, a socióloga da educação Alice Mendonça conclui que a escola beneficia as raparigas e prejudica os rapazes, com abundantes estatísticas e quantificações como é de bom tom.

Para a socióloga, os rapazes são mais contestatários, portam-se mal , ergo não aprendem; as raparigas são mais integradas e conformistas, fazem tudo como lhes é pedido, não admira que tenham mais sucesso.

Para além da idiotice pegada que é o estudo, a socióloga sai-se com esta pérola: "Continuam a nascer mais rapazes do que raparigas (em cada 100 nascimentos, 105 são do sexo masculino). Por causa disso o seu número é superior nos primeiros anos de escolaridade."

Coitada, suicidou o seu próprio estudo! Mas como este, há muitos , e às vezes bem pagos, e às vezes por todos nós...

PATEADA !

11 comentários:

Xico disse...

Mas se as raparigas têm tanto sucesso, parece que a socióloga afinal tem o género trocado, pois a matemática não é certamente o seu forte.

Mário R. Gonçalves disse...

Só falta que queiram promover a troca de sexo com vista ao sucesso escolar...

Fernando Vasconcelos disse...

Não sei se estão a ver o perigo que está subjacente à expressão "são mais contestatários logo não aprendem" ...

Mário R. Gonçalves disse...

Tem razão, isso fez-me cócegas, a senhora socióloga deve querer concluir que a escola só aproveita a quem é conformista. Nem sei se há alguma verdade nisso. É provável que os inconformados aprendam mais noutro lado. Mas assumir isso como tese é muuuito perigoso - para a escola.

Carlos Pires disse...

Contudo, o disparate matemático não foi a coisa mais disparatada que disse.
Aquele estudo parece que foi feito de encomenda para ilustrar a ideia (de Richard Feynman) de que as Ciências da Educação e algumas investigações da Psicologia e da Sociologia são ciências do "culto da carga".

Alice disse...

Ao invés de comentarem que as competências matemáticas da socióloga, deveriam efetuar um curso de Iniciação à Demografia, pois:
RELAÇÃO DE MASCULINIDADE
É a relação (ou proporção) entre o número de indivíduos do sexo masculino e os do sexo feminino.
Em geral a relação de masculinidade à nascença costuma ser de 105. Ou seja, para 105 crianças do sexo masculino nascem 100 do sexo feminino:
(105/100) = 1,05 (multiplicando por 100 para ter nº inteiro = 105)

Mário R. Gonçalves disse...

I rest my case

alice disse...

Acresce que a vossa leitura não foi muito atenta. Segue o documento que enviei para o publico:
Diferença de resultados entre os géneros : evolução ao longo dos ciclos de escolaridade

A igualização das oportunidades escolares em ambos os sexos, possibilitou a escolarização feminina e o progressivo ingresso das raparigas em itinerários escolares outrora quase exclusivamente masculinos. Deste modo, nos últimos anos, a participação das raparigas tornou-se particularmente visível no crescimento escolar, em vários países, como Portugal, onde se tornaram sensivelmente maioritárias e apresentando uma dupla vantagem: mais numerosas e melhor sucedidas nas suas realizações escolares.
A vantagem das raparigas sobre os rapazes em termos de aproveitamento escolar tornou-se bastante visível através das estatísticas oficiais do ensino escolar visto que nas últimas décadas a diferença de resultados entre rapazes e raparigas tem vindo a acentuar-se. Este facto que se patenteia em situações de reprovação e abandono escolar por parte do género masculino, aumenta exponencialmente à medida que acrescem os ciclos de escolaridade e atinge o seu auge no ensino universitário.
Assim, as estatísticas portuguesas demonstram que no 1º ciclo o volume de rapazes é superior ao das raparigas, uma vez que se registam mais nascimentos masculinos. Contudo, as reprovações masculinas no 1º ciclo provocam um equilíbrio numérico entre os dois géneros no 2º ciclo onde o número de rapazes matriculados iguala o das raparigas. No 2º ciclo as reprovações masculinas duplicam as femininas e deste modo no 3º ciclo encontramos mais raparigas matriculadas pois muitos rapazes ficam retidos no ciclo anterior. Ou seja, a taxa de reprovação masculina é muito superior à do género oposto. As raparigas têm mais sucesso, o que significa que reprovam em menor quantidade do que os rapazes.
Além da reprovação, maioritariamente masculina, acresce ainda o fenómeno do abandono precoce do sistema escolar por parte dos rapazes.
Como consequência, o ensino secundário é maioritariamente constituído por raparigas. Esta situação atinge o seu auge no ensino universitário onde o género feminino domina em praticamente todas as áreas, quer qualitativa quer quantitativamente.

alice disse...

Continuação:

Razões para a existência de diferentes resultados entre os géneros:
a) Questões biológicas e estereótipos sociais
Os comportamentos entre os dois géneros apresentam-se já diferenciados ao nível do ensino pré-escolar, com as raparigas a manifestar mais autonomia, auto-controlo e maturidade físico-motora.
Corroborando esta questão, os estudos de imagiologia cerebral, revelaram que os cérebros dos rapazes possuem funções mais especializadas, pois tendem a delegar determinadas tarefas para um ou outro lado do cérebro consoante essa tarefa é ou não predominante. Inversamente, o cérebro das raparigas, ao utilizar os dois lados, apresenta maior amplitude. Deste modo, durante as tarefas verbais a actividade cerebral das raparigas é tão intensa no seu hemisfério direito como no esquerdo, enquanto que nos rapazes a actividade cerebral é muito mais acentuada no hemisfério esquerdo.
Independentemente destas predisposições genéticas, os próprios estereótipos sociais relativos a cada sexo, associados às condições económicas e sociais do quotidiano contribuem para a adopção de comportamentos diferentes em rapazes e raparigas, afectando o tipo de linguagem e ainda o desenvolvimento nos mais diversos níveis, nomeadamente emocional, motor, intelectual e social.
É também em conformidade com as características inatas a cada género que os comportamentos assumem características distintas.
Assim, os jogos físicos violentos são bastante mais frequentes entre os rapazes que passam uma parte significativa dos seus tempos livres mais envolvidos em actividades competitivas de grupo como o futebol e o basquetebol. Os seus jogos sociais envolvem ainda grupos maiores e uma organização hierárquica mais desenvolvida do que os das raparigas.
Nestas, o cérebro inicia muito mais cedo o desenvolvimento das zonas do sistema frontal relacionadas com a moderação dos comportamentos sociais, da concentração e a compreensão dos sentimentos dos outros. Destas predisposições femininas, advém a capacidade de aquisição precoce das letras e dos números.
Os rapazes estão assim em desvantagem face às raparigas desde o ensino pré-escolar, e desde as dificuldades de aprendizagem à dislexia, pode considerar-se que o seu desenvolvimento é globalmente mais lento. Paradoxalmente, nunca é referido que o número de rapazes sobredotados supera o das raparigas, nem que possuem um leque substancialmente mais amplo de capacidades do que aquelas. Isto significa que, seja qual for a aptidão, são muitos mais os rapazes que apresentam valores do topo da tabela e valores do limite mais baixo. Como resultado, não só um número muito maior de rapazes é considerado “incapaz de aprender”, como também há muito mais rapazes identificados como “sobredotados”.
Com efeito, os rapazes, além de evidenciarem uma maior propensão para problemas de comportamento do que as raparigas, apresentam actualmente um atraso a todos os níveis, em quase todas a matérias escolares.

alice disse...

Continuação:
Duas investigações de âmbito internacional levadas a efeito sobre a capacidade de leitura - a PISA 2000 e a PIRLS 2001 – destacam esta disparidade de desempenho entre os sexos. Em conjunto, estes dois estudos avaliaram a capacidade de leitura de crianças em mais de 50 países e os resultados revelaram que aos nove e aos quinze anos de idade, a capacidade de leitura dos rapazes era inferior à das raparigas em quase todo o mundo.
Embora historicamente, os rapazes sempre tivessem revelado tendência para superar as raparigas nas disciplinas de Matemática e Ciências, actualmente, devido ao aumento da discrepância na capacidade de leitura entre os sexos, as raparigas começaram a ultrapassá-los nestas matérias.
Relativamente a esta desigualdade de aproveitamento entre géneros, têm sido enunciadas diversas teorias e sugeridas muitas formas de actuação para a resolver. Um dos argumentos mais comuns é o de que os rapazes levam mais tempo a amadurecer e que, portanto, seria mais vantajoso iniciarem a sua educação formal mais tarde, de forma a conseguirem acompanhar as raparigas. Contrariando esta consideração, encontramos as actuais recomendações britânicas que visam estabelecer a igualdade nos desempenhos académicos mediante um reforço escolar direccionado aos rapazes.

a) O PAPEL DIFERENCIAL DA ESCOLA FACE A CADA UM DOS GÉNEROS
Apesar de possuírem as mesmas capacidades cognitivas que os rapazes, as raparigas têm melhores notas e são mais favoravelmente avaliadas pelos professores. Donde se deduz que além de os professores valorizarem aspectos do comportamento feminino mais conformes com as suas representações do bom aluno, ou do aluno ideal, a escola também premeia as disposições fundamentais da socialização feminina e, sob certos aspectos, as realizações escolares das raparigas.
Assim, as identidades de género e as correspondentes disposições biológicas, que no caso das raparigas lhes permitem adquirir precocemente maior estabilidade motora, maior auto controlo e autonomia, conferem-lhes vantagem face aos rapazes nas tarefas escolares e permitem-lhes ser mais valorizadas pelos professores.
Por outro lado, as raparigas devem o seu melhor aproveitamento, à aquisição precoce das competências interaccionais, que utilizam e aperfeiçoam nas tarefas específicas da sala de aula. Mais compatíveis com as normas escolares, as raparigas têm neste aspecto uma vantagem decisiva sobre os rapazes, acrescida do facto de a instituição escolar, premiar e reforçar as suas prestações sociais e académicas.
Por seu turno, a diferença comportamental manifesta por cada um dos sexos em contexto de recreio da escola demonstra que os rapazes agem com um mínimo de regras e um máximo de barulho, ocupando o máximo de espaço e mobilizando um grande número de parceiros, enquanto as raparigas ocupam economicamente o espaço, com o máximo de regras e um pequeno número de parceiros.
O prolongamento destes comportamentos no contexto da sala de aulas beneficia o sexo feminino, visto que o domínio de todo o conjunto das interacções, que incluem entre outros, os trabalhos de grupo, lhe permite tirar melhor partido das aprendizagens escolares.

Mário R. Gonçalves disse...

Dizia eu:

Para além da idiotice pegada que é o estudo...