Hipótese: entro num restaurante que não conheço, onde reservei mesa. Tenho de me impor neste meio adverso se quero ser bem tratado. 1º cuidado: vou ser julgado pela minha linguagem. Começo por dar o meu nome. Depois, à mesa, não demoro demasiado a escolha: sem estar às ordens do empregado, mostro um ar ligeiramenrte incomodado por ter de interromper o alegre convívio para fazer o pedido. Como quem não quer a coisa, mostro algum conhecimento gastronómico, tipo saber distinguir temperos ou modos de cozedura: obtém-se mais estima se se mostrar um fingido interesse pelo ramo. Nunca encomendo o prato principal sem indagar sobre o acompanhamento, e prefiro sempre uma alternativa decente à oferta de base da casa: se fôr feijão verde peço antes arroz basmati, etc. Quanto ao vinho, escuto um pouco as propostas tentadoras mas sempre contraponho a preferência por um vinhito razoável só para matar a sede, só meia garrafa.
De início, não me atiro, faminto, ao prato, antes faço ares de pouco apetite. Fingir classe sem arriscar. Nunca pergunto "mais puré, pode ser?" mas "poderia dispor de mais uma colherzita do vosso excelente puré?"
No momento da "dolorosa", verifico se o couvert (nem que seja só o pão) era mesmo incluído, e se o pudim, devolvido por saber a velho, foi ou não contabilizado. E se ao sair alguma mão se estende, aperto-a com um sorriso e um aceno. A consideração que se mostra pelo pessoal é bem mais gratificante que uma pequena gorjeta.
(inspirado em Phillippe Bouvard, Le bloc-notes)
Sem comentários:
Enviar um comentário