quarta-feira, 31 de março de 2010

31 de Março - nasce Haydn

Franz Joseph Haydn (Rohrau, Áustria, 31 de Março de 1732 — Viena, 31 de Maio de 1809)

Haydn - A Criação, "Graceful consort !", em inglês,Emma Kirkby, Michael George
Christopher Hogwood, The Academy of Ancient Music




Adam
Graceful consort! At thy side
softly fly the golden hours.
Ev'ry moment brings new rapture,
ev'ry care is put to rest.

Eve
Spouse adored! At thy side
purest joys o'erflow the heart.
Life and all I am is thine;
my reward thy love shall be.

terça-feira, 30 de março de 2010

Wagner com dedicatória

Caro Alberto do Outras Escritas, esta é dedicada a si:
Ben Heppner,"The prize song", Die Meistersinger von Nurnberg




Sei que Wagner não é simpático, também sou muito renitente com os (intragáveis?) Niebelungos, mas consigo apreciar os Wesendonk lieder, a liebestod de Isolde, o Navio Fantasma, os Mestres Cantores... e depois, Verdi ou Rossini também têm os seus maus momentos.
Por outro lado, se o problema é não perdoar a Wagner as posições pró-arianas que Hitler apreciava - totalmente de acordo.
Mas é pena deitar assim Wagner borda fora. Quem não o ouve fica a perder alguma coisa. Descobri isso com algum custo.



segunda-feira, 29 de março de 2010

Improviso e olho para o negócio

O Saunamóvil de Sergey Benkeu, feito com as suas próprias mãos. Um sucesso imediato na região florestal da Rússia onde ele mora.

Serviço ao domicílio

Ecológico: aquecido a lenha

Ah, o requinte das toucas!

E o banho de frio ao fim.

De micro-mini-medipiquenas empresas destas é que precisamos, para melhorar o tecido empresarial :)

sábado, 27 de março de 2010

Mestres Cantores, Zurich, pré-audição

Da récita dos Mestres Cantores a que vou assistir em Zurique, aqui vai um extracto do 1º acto pela voz grande e sólida de Matti Salminen, baixo finlandês de excelente presença no palco:

Wagner - Meistersinger von Nürnberg - Matti Salminen as Pogner



Sendo conhecida a visão nacionalista e ariana de Wagner, que muito me tem afastado, atraíu-me nesta produção o facto de o encenador Nikolaus Lehnhoff ter optado por renovar a mensagem, sendo infiel ao espírito de Wagner em termos políticos mas valorizando a qualidade musical por uma releitura moderna sem ser modernaça. Os cenários lembram mais o teatro grego do que a Alemanha, o canto de Peter Seiffert quase transforma a canção vencedora do concurso numa ária italiana cantada com paixão, Beckmesser não é um vilão judeu de mau gosto e ladrão mas um jovem apaixonado que não se vê reconhecido nem no amor nem na arte, e cuja situação trágica o leva até ao roubo do poema.

Para wagnerianos puristas que correm a Bayreuth, será heresia; para mim, tudo o que me permita redescobrir uma obra musical, encontrando nela uma nova inteligência e um novo prazer, é bem-vindo.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Guia do bom cliente de restaurante

Hipótese: entro num restaurante que não conheço, onde reservei mesa. Tenho de me impor neste meio adverso se quero ser bem tratado. 1º cuidado: vou ser julgado pela minha linguagem. Começo por dar o meu nome. Depois, à mesa, não demoro demasiado a escolha: sem estar às ordens do empregado, mostro um ar ligeiramenrte incomodado por ter de interromper o alegre convívio para fazer o pedido. Como quem não quer a coisa, mostro algum conhecimento gastronómico, tipo saber distinguir temperos ou modos de cozedura: obtém-se mais estima se se mostrar um fingido interesse pelo ramo. Nunca encomendo o prato principal sem indagar sobre o acompanhamento, e prefiro sempre uma alternativa decente à oferta de base da casa: se fôr feijão verde peço antes arroz basmati, etc. Quanto ao vinho, escuto um pouco as propostas tentadoras mas sempre contraponho a preferência por um vinhito razoável só para matar a sede, só meia garrafa.

De início, não me atiro, faminto, ao prato, antes faço ares de pouco apetite. Fingir classe sem arriscar. Nunca pergunto "mais puré, pode ser?" mas "poderia dispor de mais uma colherzita do vosso excelente puré?"

No momento da "dolorosa", verifico se o couvert (nem que seja só o pão) era mesmo incluído, e se o pudim, devolvido por saber a velho, foi ou não contabilizado. E se ao sair alguma mão se estende, aperto-a com um sorriso e um aceno. A consideração que se mostra pelo pessoal é bem mais gratificante que uma pequena gorjeta.


(inspirado em Phillippe Bouvard, Le bloc-notes)

quarta-feira, 24 de março de 2010

Shroud de John Banville

Ando há tempos a ler Shroud (mortalha, sudário) de John Banville. É obra. Nunca mais acabo porque tenho que reler não sei quantas vezes a mesma frase, o mesmo parágrafo, a página anterior, para saborear por inteiro uma escrita tão rica de leituras e subleituras, tão densa, polissémica e perturbante, que não vejo mais nada que se lhe compare a não ser, talvez, Shakespeare ou Borges.

Não vou acabar tão cedo, e já tenho outros Banville em espera. Qual Roth, Saramago, ou McEwan - Banville, sim, é o maior escritor contemprâneo.

"All my life I have lied. I lied to escape, I lied to be loved, I lied for placement and power; I lied to lie. It was a way of living; lies are life's almost-anagram."

Lies are life's almost-anagram ???!!!

terça-feira, 23 de março de 2010

Como um cisne passeando sobre a água

Ainda aqui nunca postei sobre o concerto para violino de Sibelius, um dos que mais aprecio; há muitas versões excelentes dos grandes violinistas - Heifetz, Oistrakh, Perlman.. - mas o mais empolgante na dupla perspectiva sonora e visual é a versão de Akiko Suwanai com Vladimir Ashkenazi dirigindo a Philarmonia Orchestra. Eis os dois andamentos mais curtos (2º e 3º), em especial o 3º onde Suwanai deslumbra. Sibelius em estado de graça.

Sibelius, concerto para violino e orquestra
A.Suwanai / Ashkenazi, Philarmonia Orchestra
( 2º and.)



( 3º and.)

Não resisto às sequências de grande plano sobre a mão da violinista correndo pelo Stradivarius, numa vertigem de perfeita sonoridade...

sábado, 20 de março de 2010

Finalmente Primavera


Le Printemps
Théophile Gautier


Regardez les branches
Comme elles sont blanches,
Il neige des fleurs.

Riant de la pluie
Le soleil essuie
les saules en pleurs.

Et le ciel reflète
Dans la violette
Ses pures couleurs…

La mouche ouvre l’aile
Et la demoiselle
Aux prunelles d’or,
Au corset de guêpe
Dépliant son crêpe,
A repris l’essor.

L’eau gaiement babille,
Le goujon frétille
Un printemps encore !



Caros comentadores, espero que não levem a mal, apaguei os 2 posts anteriores que eram meio estranhos ao estilo habitual. Agradeço a vossa participação e preocupação, está tudo de regresso à "normalidade". Boa Primavera !

domingo, 14 de março de 2010

Obra prima:
Scratch my back
de Peter Gabriel

Um fenomenal disco de canções como há muito eu não ouvia. Scratch my back de Peter Gabriel é um conjunto de versões orquestradas de canções criteriosamente seleccionadas , incluindo autores como David Bowie, Paul Simon (S&G), Lou Reed, Magnetic Fields, Neil Young, os Kinks. A surpresa está 1º) na voz de Gabriel, escura, íntima, vagamente rouca, com o sabor a casco de carvalho que traz a idade; 2º) nas orquestrações, sem guitarras nem bateria, só em piano, cordas e sopros, que não cederam à tentação do sumptuoso mas são muito bem compostas e enriquecem de intensidade cada uma das canções; são da responsabilidade de John Metcalfe e interpretadas por uma orquestra dirigida por Ben Foster, e pelo coro da Christ Curch de Oxford. Soam clássicas, um pouco à Gorecki, Ärvo Part.
Lembra-me um excelente disco de há anos, "Travelogue", em que Joni Mitchell reeditava muitas das suas canções também revisitadas e orquestradas em tom outonal.
Saliento "Heroes", de Bowie e Eno, a fechar o 2º CD; "Mirrorball", dos Elbow; "Book of love" dos Magnetic Fields, e o fabuloso "Waterloo Sunset" dos Kinks.
Heroes

Book of love


sábado, 13 de março de 2010

Obras pouco ouvidas:
Quarteto com piano de Mahler

Que me lembre, nunca vi esta peça programada em concerto. Não sei porque é tão rara em Portugal.

É uma obra da juventude de Mahler, que teria apenas 16 anos (1876), o que mostra até que ponto começou cedo a sua capacidade de escrita musical. Ainda não é Mahler "vintage"; notam-se múltiplas influências (Brahms, Schumann), a parte de piano é muito elementar (acordes e arpeggios)...é uma promissora peça de estudante. contudo, os temas estão bem desenvolvidos, e há uma interessante cadenza no violino.

Como só há um andamento, costuma ser referida como "Andamento do Quarteto com piano em La m".Quarto Quartet, Quarteto com piano de Mahler (andamento)



Deste Quarteto há ainda um curto embrião de "Scherzo" (24 compassos), mais vivo e vanguardista, que lembra Schnittke ou Schoenberg.

sexta-feira, 12 de março de 2010

A Ópera em Graz II:

Julia Kleiter

O Helmut-List Halle, nova sala de concertos e ópera de Graz, foi construído porque a acústica da antiga ópera era, digamos, mázinha - bem o comprovei, para meu desgosto.

http://www.helmut-list-halle.com/

A nova sala é feia q.b., parece um shopping português, mas ao que dizem tem uma acústica incrível. Um dos maiores acontecimentos desde que abriu foi o Idomeneo de Mozart, dirigido por Harnoncourt, de novo "em casa".

Julia Kleiter foi uma revelação: uma voz como agulha de diamante que navega com grande souplesse pelas espiras do canto mozartiano, com um belo e cristalino timbre. Não é uma voz grande (Wagner, nunca), mas parece uma Mozartiana de excepção.

Desde 2004, já tem vindo a levantar uma bela carreira , foi dirigida po Minkowski (na Flauta), Muti, Abbado (no Fidelio), Jacobs...

Helmut List Halle
Mozart, Idomeneo
Styriarte 2008, Graz
Nikolaus Harnoncourt
Ária "Zeffiretti lusinghieri", Julia Kleiter



Gravação de eleição: a Criação de Haydn, dirigida por Jacobs com a Freiburger Barock, em que Julia Kleiter é Eva e um fabuloso anjo Gabriel!

quinta-feira, 11 de março de 2010

A Ópera de Graz, I :

Philippe Jordan

Graz é uma linda cidadezinha austríaca onde tem lugar um festival anual - o "Styriarte" - e a música é cultivada por toda a parte, sendo a Ópera de Graz o templo máximo.

É uma construção neo-barroca de 1899 , que abriu como teatro com o Guilherme Tell de Schiller. Tem sido uma criadora de carreiras: foi onde Karl Bohm se iniciou, Harnoncourt deve-lhe boa parte da carreira, e mais recentemente Philippe Jordan, que é o actual director da Ópera Nacional de Paris, depois de uma passagem pela Ópera da Bastilha.

http://theater-graz.com/oper/

A casa é sede da Opera Graz, do Ballet Graz e da Graz Philharmonic Orchestra, foi eleita "Casa de Ópera do ano" em 2000/2001; estive lá em 2001, onde assisti a um concerto da Filarmónica com Philippe Jordan (durante muitos anos director musical da instituição), onde interpretou obras de Haydn, V.Williams, Elgar e Strauss. Curiosamente, é raro ele dirigir concertos, dedicando-se quase por inteiro à ópera.

É estre maestro suíço, filho de Amin Jordan, assíduo na Ópera de Zurique, que lá vai dirigir os Mestres Cantores em Abril. Expectativa elevada.

segunda-feira, 8 de março de 2010

8 de Março

Emma Kirkby

No spring, nor summer beauty hath such grace
As I have seen in one autumnal face (...)

John Donne

(inspirado em Amazing Grace)

E a seguir... os Mestres Cantores !

Se tudo correr bem, vou passar uns dias no início de Abril a

onde, até aqui, só tinha estado de passagem no aeroporto; vou assistir aos Mestres Cantores de Nuremberga, de Wagner, uma das minhas 4 óperas favoritas (com o Fidelio, o Guilherme Tell e a Flauta Mágica). Vai ser na Opernhaus,

uma estreia para mim; a encenação é ao que sei excelente e já muito rodada, o maestro é Philippe Jordan e cantam entre outros Edith Haller (Eva), Wiebke Lehmkuhl (Magdalene); Alfred Muff (Hans Sachs), Peter Seiffert (Walther von Stolzing), Matti Salminen (Veit Pogner), Michael Volle (Sixtus Beckmesser).

Também não posso perder a exposição na Kunsthaus de Monet, VanGogh e Cézanne.

E ainda, uma visita à aldeia de Stein-am-Rhein...

estou mesmo a precisar de mudar de ares!

domingo, 7 de março de 2010

Fez-se Luz

(Porto, CM, 6/03/2010)



Aqui, canta Janet Baker; na Casa da Música, ontem, esteve Birgit Remmert, igualmente perfeita. Uma noite de Ressurreição, uma ONP renascida, a casa quase veio abaixo. Se ao menos pudessem repetir da capo...

quinta-feira, 4 de março de 2010

Ainda estão quentes

Acabadinha de chegar a minha mais recente encomenda da Amazon, "eize-la":

  • Haydn: Symphonies 91 & 92, Scena di Berenice (Bernarda Fink/Freiburger Barockorchester/Jacobs)

Jacobs e a Freiburger nas alturas ! Não houve melhor edição no ano Haydn. A 91 está de cortar a respiração. Não paro de ouvir...

  • Realism
    The Magnetic Fields

Stephen Merritt e os Magnetic Fields são dos poucos que ainda vale a pena ouvir no universo pop. Textos excelentes, irónicos ou melancólicos, músicas com graça e um delicioso lirismo rétro vagamente delirante, e a estranha mas comovente voz de Claudia Gonson.

  • Little Princess [DVD] , Alfonso Cuarón

História de crianças num colégio em ambiente de início do sec XX, à inglesa, que reagem com imaginação à violência que sofrem. Muito bem filmada, fotografada e interpretada. Visuamente empolgante, a imaginação infantil é a grande vencedora.

  • Shroud , John Banville
    Picador

Depois de "O Mar", espero que seja outra obra prima. Ao que sei, uma história intensa e trágica que se passa em Turim. Quando tiver lido conto.


E também, via Bertrand,

  • Economia(s)
    Francisco Louçã, José Castro Caldas , Afrontamento 2010
Fã de Louçã, eu ? nãaa... mas Francisco Louçã é um meritório académico, estudioso e professor. Aliás, deve ser o único personagem de mérito naquela coisa BE de que é líder. E o livro é ... magnífico ! Não pude deixar de ser atraído pela apresentação cuidada, texto ilustrado com belos gráficos, notas históricas e matemáticas bem elaboradas e bem escolhidas. Mas na verdade todo o livro é muito didáctico para um zero em economia como eu. Fica-se a conhecer mais sobre a história e as várias escolas de economia, com dados dos tempos recentes em Portugal. Claro que Louçã não consegue ser neutro, e por vezes nem sequer é objectivo. Os ideais têm primazia. Isso é um defeito? Economia(s) é uma bela obra. E Louçã um político que não envergonha.

terça-feira, 2 de março de 2010

Já é neste sábado...

...que a 2ª de Mahler vai soar na Casa da Música, pela ONP, côro Gulbenkian e Christoph König.

Ouço sempre a "Ressurreição" como se fosse a primeira vez. Uma catarse. Espero que saia bem melhor do que há uns anos, quando a ONP ainda empastelava. A direcção de König tem elevado a orquestra a outro patamar, acho que vai ser agora a prova de fogo.

Cantam Lisa Milne (sop) e Birgit Remmert (mezzo). A primeira tem cantado mais com agrupamentos barrocos; a segunda tem carreira mais vasta, frequenta Mahler com assiduidade, veremos a sua Urlicht.

Como será o órgão e o sino ? Espero que não poupem esforços. Por toda a cidade deviam ecoar os acordes finais... um grande sábado em perspectiva.

P.S. só por isto é que não vou ver as camélias... ;)

segunda-feira, 1 de março de 2010

guardiães de um tesouro

"O mundo já pouco tem para nos oferecer, parece muitas vezes constituir-se de pouco mais do que barulho e receio, mas o certo é que a erva e as árvores continuam a crescer. Quando um dia a terra estiver completamente coberta de caixotes de betão, as nuvens continuarão a correr no céu e adquirir sempre novas formas, e aqui e ali as pessoas, por intermédio da arte, precisarão de manter uma porta aberta para o divino."

"O que seria de nós, os velhos, se não tivéssemos esse livro ilustrado que é a memória, toda essa riqueza de experiências vividas! Seria uma situação lamentável, seríamos uns miseráveis. Deste modo, porém, somos imensamente ricos e não nos limitamos a arrastar uma carcaça cansada, de encontro ao fim e ao esquecimento; somos guardiães de um tesouro que viverá e resplandecerá enquanto nós próprios respirarmos."

Hermann Hesse