Com receio de ser desagradável, pelo que desde já peço desculpa (costumo ser tão consensual...), vou começar aqui uma pequena campanha anti-papal. Irrita-me tanto a vinda do Papa como o jogo da bola ou o Tony Carreira, mas neste caso a histeria nacional, o decretar de feriados, o arregimentar de criancinhas em T shirts - tal como para a apoiar a Selecção, claro -, as despesas idiotas com palanques, cerimónias, guarda policial, tudo isto reveste um tal grau ZERO de civilização e racionaldade que não consigo ficar indiferente.
A receita para um país falido, e não apenas economicamente, falido como país, como nação, já Salazar a tinha: fado, fátima e futebol. Circo para o povo, mas não um circo qualquer - um circo ideológico que comunica conformação com valores e dogmas, e dá escapes emocionais às frustrações. Um circo que está na base do atraso, da recusa do progresso, da indiferença pela elevação cultural.
A vinda do Papa e a vitória do Benfica vêem mesmo a calhar num período coberto de cinzas vulcânicas como o que atravessamos, com os poderes internacionais ao mesmo tempo paralizados face ao pandemónio económico e delirantes com a oportunidade de encher os bolsos à custa dos mais fracos, pois o caos reinante é o meio ideal para manobras especulativas e o desenho de novas estratégias lucrativas.
Aleluia, vem o Papa! Aleluia, o Benfica ganhou! A festaça vai ser grande, a ressaca talvez ainda maior. Portugal não é uma nação, não tem futuro, não tem projecto, não tem alma ? Ora, paleio de velhos do restelo, miserabilistas e traidores. Então e o Ronaldo, e o Mourinho, e a Kátia? Hã? Grandes portugueses, hã? E vem aí o 13 de Maio, aleluia, esqueçam essas perrices. E depois vamos a ver quem ganha , se o Cavaco se o Alegre. Ambos grandes homens, pensadores de escol!
Vou por isso começar uma pequena campanha nesta semana que para mim é de luto e doença, física e mental. Não tenho culpa de ser ateu, é daquelas evidências que dois dedos de racionalidade me impoem. Não é a pessoa do Papa que ponho em causa: são as crenças e crendices, as manipulações em massa, as mentiras passadas como verdades, o jogo sarcástico dos poderosos com a ignorância dos povos.
Dispenso Papas - 1
"Se Deus existe, espero que tenha uma boa desculpa !"
Woody Allen
domingo, 9 de maio de 2010
Futebol, Fátima e país Falido
Dispenso Papas - 1
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7 comentários:
Nem mais, Mário.
Mário:
Gostava de poder discordar de si em relação à descrição que faz do estado do país: era sinal de que, no meio da miséria e o atraso, havia alguma luz ao fundo do túnel, mas não há.
Eu, que sou professora, também não vejo nas gerações futuras sinais que me permitam ter esperança: se o conformismo, a superficialidade e a ausência de espírito crítico já dominam as vidas da maioria dos jovens entre os 15 e os 17 anos, então o que podemos nós esperar que mude?
Parece-me que o problema não é o acontecimento (a vinda do papa) que põe à superfície o espectáculo e a manipulação da Igreja dos políticos, etc, mas sim os problemas de fundo que se mantêm, desde há séculos, na sociedade portuguesa , por exemplo: o esbanjamento crónico de dinheiros públicos na ostentação e na aparência, a corrupção, a falta de civismo...Infelizmente aquilo que se passa neste momento nas escolas portuguesas com a política educativa deste ministério e dos anteriores (a falta de exigência, a desresponsabilização, o facilitismo...) também não permitirá melhorar a perspectiva em relação ao futuro.
Quanto à afirmação da não existência de Deus, acho que há boas razões para considerarmos essa hipótese. O argumento filosoficamente mais relevante talvez seja o da existência do mal no mundo ser incompatível com a natureza divina. Julgo que a pretensão dos crentes, ao defenderem que o mal se deve ao livre arbítrio, não responde ao problema.
Uma das coisas que sempre me deu que pensar é o facto da fé, supostamente, depender de algo misterioso: a graça divina...
Cumprimentos.
Sara,
Penso que nenhum país se aguenta assim muito mais tempo. Alguma valente reviravolta isto há de ter. De qualquer forma, mantenho alguma esperança na multidão de jovens que tem vindo a abandonar o país e feito maravilhas pelo mundo, uma élite que poderá voltar com vontade de apagar tudo e começar de novo. Se não tiverem submergido aos valores da modernidade que a Sara refere.
Concordo consigo em geral, mas eu não afirmo que "Deus não existe", isso racionalmente precisaria de prova. Eu digo três coisas basicamente:
1 - Provavelmente, Deus não existe
2 - Não preciso de Deus para nada
3 - Deus ou não-Deus é uma criação minha.
Dizer que a fé é uma criaçao divina é uma óbvia pescadinha com rabo na boca. Eu também podia dizer que para se ser ateu é preciso ser-se tocado pela graça do cepticismo, que é bem mais escassa :))
Obrigado por tentar subir o nível do meu post. Não sei se a consigo acompanhar...
Caro Mário
200 % de acordo. Se bem que a Sara tem também uma opinião relevante (que até nem está muito longe da sua).
Continue com os posts!
Mário, só posso fazer eco do seu post, e também do comentário da Sara.
No meio de tudo isso, gosto muito do escrito naquele autocarro (é um autocarro, não é?). Obrigada por ter fotografado e postado.
Posso copiar para o meu blog (com o devido crédito)?
Pode, Gi, este e os mais que virão!
Obrigado pelo vosso encorajamento.
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