sexta-feira, 21 de maio de 2010

Notícias do Ártico

A linha de árvores e o heróico Lariço

Já há algum tempo não escrevo aqui sobre o ártico, cá vai um post, desta vez dedicado ...às árvores.

A linha de árvores (a verde) e a linha de clima ártico (laranja).

A linha de árvores é a fronteira geográfica do habitat favorável ao crescimento de árvores. A latitudes superiores, podem ser plantadas mas não sobrevivem, porque as condições de vento, temperatura ou escassa profundidade de solo fértil são demasiado hostis. Na região do ártico, esta linha oscila entre os 55º e os 71 º N (ao nível do mar). Para lá, só tundra e a calote de gelo.

Por exemplo, na Gronelândia, na ausência de árvores nativas, fizeram-se várias tentativas de plantação, com poucos casos de sobrevivência crescendo lentamente no Søndre Strømfjord, a 67°N. Conseguiu-se aí uma pequena floresta (floresta de Rosenvinge):

Há 500 000 anos a Gronelândia era realmente verde, coberta de prados, matas e florestas; agora, com um pequeno mas gradual aumento de temperatura, começa a haver mais condições de sobrevivênvia - a linha de árvores está a deslocar-se para norte - e até as mais enfezadas árvores de Rosenvinge (coníferas plantadas em 1893) têm tido um espectacular renascimento: os topos estão a verdejar com novas agulhas ! E há mais prados, mais culturas...

Também no Canadá, Alasca e Noruega algumas espécies sobreviven até perto dos 70ºN. Mas o local onde as árvores conseguem resistir até maior latitude é no planalto central da Sibéria, no vale do rio Kathanga, onde condições extremas de clima continental permitem calor suficiente no verão até aos 72°30'N !

Lariços na floresta de Ary-Mas

A conhecida floresta de Ary-Mas é a mais nórdica do planeta. Devido a um microclima continental, o vale do rio Khatanga é o único local onde árvores subsistem acima dos 70º de latitude – e até aos 72º 30’, 660km a norte do Círculo Polar. Formam uma espécie de ilha de árvores isoladas na tundra.

O Lariço siberiano, árvore admirável

Em condições inimagináveis no inverno, os Lariços sobrevivem a -50º C e ventos que podem atingir 50m/s , que lançam gelo como facas contra as poucas árvores que resistem. Mas resistem. Os lariços, variedade de cedro, sob os ventos do ártico, adquirem formas curiosas:

Estas formas surgem devido aos ventos invernais. Quando neva, o fundo da árvore fica coberto de uma protecção que abriga os ramos baixos dos terríveis ventos árticos. A parte de cima é severamente desbastada. Duas razões explicam a resistencia da floresta: o calor do verão continental e a profundidade do permafrost - o solo fértil de sedimentos fluviais - pode aqui atingir 200 m !

O Lariço da Sibéria ( Larix Dahurica) é uma conífera de crescimento rápido, resistente ao frio, que noutras parte do mundo pode atingir 45 metros; nas condições árticas as árvores raramente passam os 5 metros.

Lariços com cerca de 15 m

A cidade de Veneza deve aos troncos de Lariço sobre os quais repousa a longa sobrevivência dos palácios! Embora se trate da variedade Lariço-europeu, tem os mesmos troncos rijos e resistentes, recomendados para postes, travessas de caminho-de ferro e construção naval, e usados também na construção de cabanas para os povos do ártico.

O rio Khatanga, que gela completamente no inverno

O rio Khatanga fica na península de Taymyr , uma região ártica habitada pelos Naganasans, um povo tradicionalmente nómada de caçadores, pescadores e pastores de renas, muito mal tratados durante o regime soviético. São a população mais nórdica do planeta, e não foi por acaso que se estabeleceram na última região fértil da tundra. Possivelmente, alterações climáticas virão a dar a estas populações condições com que nunca sonharam...Voltarei ao assunto num futuro post.

Mapa:

Fonte principal:
http://www.wondermondo.com/Countries/E/RUS/Krasnoyarsk/AryMas.htm

3 comentários:

Sara Raposo disse...

Olá Mário:

Obrigada por estes ensinamentos e pela beleza das fotos.

O que escreveu fez-me lembrar uma das coisas que aprendi este ano com uma aluna - oriunda da Moldávia - que numa das aulas me falou das primeiras flores que resistem às temperaturas muito baixas e são as primeiras a despontar na Primavera quando o gelo derrete. Deixou-lhe a sugestão e a foto:

http://duvida-metodica.blogspot.com/search/label/Trabalhos%20de%20alunos%20-%2010%C2%BA%20ano

Cumprimentos.

Mário R. Gonçalves disse...

Sara,

fico contente por ter gostado, mas não são "ensinamentos" , são aprendizagens minhas que me dá gosto partilhar.

O belo texto da sua aluna confirma outra ideia que eu já tinha - a absoluta festa que é para os países frios a chegada da Primavera, e os ritos e lendas a isso associados. É bom ter esses testemuhos "ao vivo", confesso que tenho nostalgia de nunca ter tido um aluno do Leste...

Se ainda não reparou, tenho uma enorme atracção pelo Ártico, quer pela geografia e cenários, quer pelos povos, história das explorações,fauna e flora... mais posts hão de vir.

Anónimo disse...

shefii muähh! supapöuw uacy!! dhisparah örhaim undho! ognarupirek nassuapirok ut unduvershlagen agraliemenssonn ut üruck und tanderteiken!